Num hospital psiquiátrico um doente de origem africana aguarda alta. Dois médicos, com posições hierárquicas diferentes, esgrimam argumentos. De um lado, o zelo profissional personificado por Gustavo (interpretação de Pedro Laginha), um jovem estagiário. Do outro, o desejo de «cumprir os regulamentos», diminuir a despesa com os doentes e «agradar ao Ministério», a cargo de Henrique (José Pedro Gomes), Chefe de Secção. Pedro (Carlos Paca) sofre, provavelmente, de esquizofrenia. Vê laranjas azuis e auto-intitula- -se filho de um ditador africano. .A loucura está no centro de Laranja/Azul, a peça de Joe Penhall que está neste momento em cena Hospital Júlio de Matos, em Lisboa. A encenação está a cargo de Natália Luiza. Mas não se trata só de loucura. O racismo, o estatuto social dos doentes mentais, o sistema de saúde, a solidão estão também presentes nesta peça atravessada pelo humor negro. .Joe Penhall, nascido em Londres de pais sul-africanos e criado na Austrália, iniciou-se na escrita como jornalista, trazendo depois para o teatro a linguagem coloquial e as personagens da vida real. «Como jornalista senti que não poderia aprofundar as estórias como gostaria, nem dar-lhes o nível de paixão e emoção que queria», explicou numa entrevista. Começou a carreira como dramaturgo em 1993 no Royal Court Theatre, tendo trabalhado no National Theatre e na Donmare House. Laranja/Azul estreou em 2000. O autor considera-a a sua melhor peça e aquela que lhe deu mais prazer escrever. Depois, veio o sucesso. Laranja/Azul conquistou os mais prestigiados prémios londrinos como o 2000 Evening Standard Award para Melhor Peça do Ano, o Critic's Circle Award para Melhor Peça Original e o Prémio Olivier de 2001. Penhall começou a ser convidado para escrever para televisão e cinema, assinando a adaptação da peça de Ian McEwan Endurnig Love ou da sua própria peça Love and Understanding. «Ironicamente, o sucesso fez-me ser desejado por pessoas que, na verdade, não deveriam querer-me. Eu penso: porque é que me escolheram a mim? Eu sou aquele que escreveu Laranja/Azul.»