Por estes dias, a Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Papa, ocupam o espaço noticioso..Centenas de milhares de jovens vieram colorir as ruas das nossas cidades, em especial de Lisboa, com uma energia e alegria muito especiais..Não por acaso, a Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, aproveitou a oportunidade para traçar um retrato da juventude portuguesa. A conclusão aponta para a longa e sinuosa jornada dos jovens..Por um lado, estes dados confirmam que temos hoje a juventude (dos 15 aos 24 anos) mais qualificada de sempre: 9 em cada 10 jovens entre os 20 e os 24 anos têm, no mínimo, o Ensino Secundário, e Portugal é o 7º país da UE com maior proporção de jovens com Ensino Superior..Os jovens portugueses têm competências digitais acima da média europeia, e estão em 5º lugar entre os que mais utilizam as redes sociais e leem notícias online; ou que os hábitos de saúde deste grupo etário parecem estar a melhorar - diminuiu a percentagem de jovens que afirma nunca praticar desporto (um em cada 3) ou que fuma diariamente (9%)..Apesar destes aspetos positivos, preocupações com o acesso à habitação e ao emprego continuam a afetar os jovens: 6 em cada 10 empregados têm vínculos de trabalho precários, e Portugal é o 7º país da UE com maior taxa de desemprego jovem, afetando 1 em cada 5 jovens no mercado de trabalho..Muito impressionante é que a esmagadora maioria dos jovens (95%) viva com os pais, valor que traduz uma mais difícil independência, sobretudo considerando que este valor era de 86% em 2004. Portugal é o 4.º país da UE, a seguir à Itália (97%), Croácia (96%) e Espanha (96%), em que mais jovens vivem com os pais, acima da média europeia (83%). Na Suécia e na Dinamarca, os jovens que vivem com os pais são menos de metade do total..Parece existir aqui uma contradição, mas ela é apenas aparente..Na verdade, estamos a investir na geração mais qualificada de sempre para depois não oferecer condições de trabalho e de habitação, o que leva à sua saída do país..É verdade que, olhando para o saldo migratório, verificamos que, desde 2019, entram no país mais jovens do que aqueles que saem para viver no estrangeiro. Mas nem sempre foi assim: de 2010 a 2018 o saldo foi negativo. A isto acresce o facto de os jovens que entram terem, em média, menos qualificações que os que saem, gerando assim um saldo negativo de qualificações..A Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou um grande estudo, a que chamou Do made in ao created in: um novo paradigma para a economia portuguesa, coordenado por Fernando Alexandre, no qual se identificavam os maiores obstáculos ao desenvolvimento do país, e também algumas possíveis soluções..Ali podemos encontrar pistas sobre as qualificações dos portugueses, em especial dos gestores, o desenvolvimento da nossa economia, e o crescimento das nossas empresas..Há aqui um enorme caminho a fazer. É essencial garantir que os jovens encontram em Portugal condições para viver, trabalhar e constituir família. Este é um objetivo central de todos: decisores políticos, empresas e sociedade..Mas é necessário ultrapassar os obstáculos endémicos, colocar o país no caminho do crescimento. Só é possível distribuir a riqueza que existe, não a que não existe. E a riqueza é produzida pelas nossas empresas e pelo dinamismo da nossa economia..Aproveitemos este tempo dedicado aos jovens para refletir sobre tudo isto, sobretudo para garantir que, passada a Jornada, podem aqui ficar, contribuindo para um país melhor para todos..Presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos