A jihad ainda é global
Vinte anos depois do golpe na Argélia que negou à Frente Islâmica de Salvação a governação depois do sucesso eleitoral, os movimentos islâmicos radicais mostram enorme capacidade de sobrevivência. Vemos isto no Norte de África, Médio Oriente, costa oriental africana, Ásia Central ou Cáucaso. Em muitos casos é a tensão com os militares que define o rumo do país. Noutros, o radicalismo age de forma transfronteiriça aproveitando a ausência de instituições e o vazio de poder: Estados falhados ou a caminho do colapso são, por isso, apetecíveis para a jihad. Se forem ricos ou estratégicos, melhor ainda. 1992 foi marcante para o radicalismo islâmico. Vencem no Afeganistão contra um governo pró-soviético, lutam na Bósnia contra os "infiéis" de Belgrado e assumem protagonismo na Argélia - antes e depois do travão militar - e resistem na guerra civil com o Grupo Islâmico Armado. Em cinco anos morreram mais de cem mil pessoas. A ligar esta geografia estão os "veteranos do Afeganistão", sendo o contingente argelino o maior atrás do egípcio. A financiar a deslocação do Afeganistão para os Balcãs, está a Arábia Saudita. A aproveitar a globalização da jihad, organizando-a, está a Al-Qaeda. Todos sabemos o que se seguiu em Nova Iorque numa bela manhã de setembro. Em 2012, a retirada do Afeganistão e o aproveitamento do vazio pelos extremistas estão aí à porta. Dali, tendo à mão proveitosas rotas de narcotráfico, o potencial da Internet e o Norte de África e Médio Oriente em ebulição islâmica, é provável que se assista a nova fase desta jihad global, que pode ser mais dispersa (África Ocidental, América Latina), ter outra força para influenciar partidos no poder, ser mais rica e conhecedora. Pior do que uma gravíssima crise económica, só uma imensa crise de segurança por cima dela. Nem aquela se resolve, nem esta se controla. E continua a haver espaço para as duas.