"Estou muito emocionado pela coincidência de fazermos este espetáculo em Portugal no dia 25 de Abril. Eu cresci com essa data na minha cabeça e para a gente do Brasil também é uma data importantíssima. Não é só para vocês", afirmou Marcelo Evelin à agência Lusa. .O espetáculo acaba de se estrear no Brasil, em Teresina, cidade natal de Marcelo Evelin, "numa cidade feia e pobre" porque é preciso retratar "os lugares de precariedade do Brasil", que são "os lugares de posicionamento" do reportório do coreógrafo brasileiro. ."'A Invenção da Maldade' é um pontapé na porta e vai numa direção que é contrária a tudo o que vai acontecendo no Brasil, estamos a sofrer muita censura, muita limitação de recursos e de possibilidades", explicou Marcelo Evelin. .O espetáculo, que manterá o público em pé durante a atuação, conta com uma equipa internacional: sete intérpretes de cinco nacionalidades diferentes e de três continentes. ."É um espetáculo que realmente questiona. Questiona o lugar do negro, o lugar do emigrante, o lugar da mulher, o lugar dos 'gays', o lugar dos corpos que não são corpos", explicou o coreógrafo sobre a peça que "investiga um corpo em crise". .A obra surge de uma memória da avó de Marcelo Evelin e, por isso, "A Invenção da Maldade" é um espaço que "tem muito de criança e tem muito de inocência". ."Neste espetáculo, eu estou muito interessado nesses corpos e nessas lembranças desses tempos de infância", disse..O coreógrafo explicou que a arte no Brasil, neste momento, ganhou uma função adicional, "além de propor uma questão, a arte vem também de um lugar de insistência". ."Eu sinto que é muito importante, neste momento, a gente colocar um pé e continuar a insistir e continuar a fazer, a estar presente. Esta é uma maneira de continuarmos o nosso Ministério [da Cultura] que foi fechado no primeiro dia de governo", afirmou Marcelo Evelin sobre a extinção do Ministério da Cultura pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro..A peça é uma coprodução do Teatro Municipal do Porto, do festival Kunstenfestivaldesarts e do centro artístico alemão HAU - Hebbel Am Ufer.."Esta mudança que está a acontecer no Brasil é, realmente, para um lugar de maldade", afirmou Marcelo Evelin..O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) e o DDD vão este ano juntar as respetivas edições, até 25 de maio, em 27 palcos distribuídos pelo Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo - estas, as quatro cidades organizadoras -, e ainda Felgueiras..O diretor artístico do DDD, Tiago Guedes, explicou hoje à Lusa que o Brasil, o tema comum a DDD e a FITEI, é incluído num espaço denominado "Foco Brasil" porque "era urgente fazer pelas questões culturais, sociais e políticas do Brasil e pelas consequências que estão a ter nos artistas, que tanto têm um efeito negativo como têm um efeito positivo, como por exemplo, na pulsão que há na criação". ."Tanto no DDD como no FITEI os artistas brasileiros estão a fazer trabalhos à flor da pele, trabalhos muito fortes, como por exemplo, o Marcelo [Evelin], a Alice Ripoll, entre outros", disse. .O DDD+FITEI decorrerá em 32 dias com 40 atividades de formação e 66 espetáculos de dança e teatro com artistas provenientes de 10 países.