A internacionalização e a banca portuguesa
A importância de um papel activo e focado da banca portuguesa no suporte à internacionalização da economia nacional é cada vez mais premente.
As empresas têm feito o seu trabalho de modernização nas mais diversas áreas ou sectores de atividade. Estamos ao nível dos melhores, e a prova é a resposta dada num ciclo de crise nos últimos dez anos, em que o peso das nossas exportações no produto interno bruto (PIB) passou de menos de 30% para 40%.
A internacionalização não é só o acto de exportar. Esta é normalmente uma experiência, na grande maioria dos casos, limitada no volume de negócios gerado, no valor acrescentado criado e no tempo, não sendo por isso sustentável.
Para sermos players do mercado global, além de muitos outros factores distintivos, temos de passar à segunda fase do processo.
A internacionalização através do investimento nos mercados-alvo, em plataformas de produção e logística, ou no domínio de canais, é vital para dar a robustez necessária às nossas empresas, para lhes dar a escala, produtividade e competitividade, e para lhes permitir, através de um novo epicentro, atingir novas geografias.
Este é um processo lento e de grande criticidade, com grande necessidade de estruturação, seja a nível financeiro - pelos investimentos e riscos que contempla - seja ainda no reforço da qualidade do capital humano - factor-chave do processo.
A visão e orientação dos acionistas é primordial, pois trata-se de dar a sustentabilidade ao seu projecto aumentando o risco numa fase inicial, aumentando o endividamento e abdicando, obrigatoriamente, de dividendos durante vários anos.
Internacionalizar é isso mesmo, assumir risco! ... mas não será um risco maior não o fazer?
No nosso caso, senão o tivéssemos feito, seguramente que hoje seríamos um grupo irrelevante ou eventualmente até já não existente.
É aqui que entendo que Portugal tem tudo para fazer bem e para fazer melhor, pois tem empresários que deram provas de que sabem "voar", que assumem o risco, que sabem ganhar novos mercados, que se sabem adaptar-se às novas culturas, que são resilientes, que sabem apostar no seu capital humano.
Temos inúmeras empresas preparadas para serem globais e que poderiam ser estimuladas e "aceleradas" com o "conforto" de ter a banca portuguesa mais presente ao seu lado neste trajeto.
É fundamental para o sucesso dos processos de internacionalização a existência da banca portuguesa sólida, robusta, capaz e eficiente, alinhada com os interesses estratégicos da nossa economia e consequentemente das empresas portuguesas.
Seria importante que em Portugal tivéssemos uma banca que fizesse o que acontece na maioria dos países, em que esta vai à frente abrir os caminhos para as empresas e, quando estas chegam, tem esse "conforto" à chegada.
Quando aterramos pela primeira vez num determinado mercado e nos apresentamos (assumida e orgulhosamente...) como um grupo familiar português, a primeira reação dos stakeholders locais, mormente os financeiros, é de alguma reserva nuns casos e noutros até de desconfiança, que normalmente, no nosso caso, vencemos demonstrando o nosso track record de internacionalização.
Na fase inicial, quer no financiamento quer na própria estruturação da operativa bancária, o apoio da banca portuguesa para nós sempre foi decisivo.
Sem este apoio, assente na confiança e no conhecimento do nosso modelo de negócio e da nossa gestão, não teríamos chegado a este nível nem a esta dimensão neste curto espaço de tempo. Para além de toda a análise de risco técnica que deve ser feita, é fundamental a confiança, e essa confiança nós sentimos sobretudo na banca que tem caras e nomes que conhecemos, nomes esses que são relevantes e estáveis nas suas instituições. Nós tivemos a felicidade de a ter!
Sendo os nossos investimentos maioritariamente de capital intensivo, cada operação de internacionalização tem associada a necessidade de estruturação de uma solução de financiamento de longo prazo. Temos, como é evidente, relações profícuas com a banca internacional e com os bancos locais em cada país em que atuamos, contudo, é claro para nós, será a banca de matriz portuguesa que naturalmente nos apoiará em primeira linha, os nossos movimentos de internacionalização, a condições normais de mercado.
CEO e cofundador da Frulact