O caminho para termos cidades mais inteligentes e melhor mobilidade passa por quebrar "silos", aumentar a partilha de informação entre as diferentes plataformas e intervenientes, trabalhar mais os dados para tomar decisões e fazer planeamento urbano adequado. As ideias estiveram em cima da mesa, esta quinta-feira, no painel "Como criar um ecossistema conectado? - Oportunidades e ameaças na cidade sem barreiras", na Mobi Summit..Para Pedro Mourisca, administrador delegado da Via Verde, ainda existem muitos "silos" na mobilidade. "A integração dos vários modos de transporte é fundamental e hoje em dia praticamente inexistente", lamenta, apontando como exemplo o facto de os diferentes transportes não estarem centralizados num único organismo..A tecnologia, acredita Pedro Mourisca, é importante para se perceber como podemos integrar o veículo automóvel com o transporte público (criando uma espécie de via verde ao simplificar o uso) e modos suaves e como otimizar as infraestruturas. Ainda assim, acredita, o automóvel próprio deverá "continuar a ter o seu lugar"..O administrador delegado da Via Verde considera que a tecnologia existente nos carros ajudará a ajustar hábitos. No caso da Via Verde, o caminho é "digitalizar todos os serviços, primeiro fora das autoestradas e depois nas autoestradas". O identificador que se usa para passar na Via Verde, por exemplo, poderá passar para o carro ou telemóvel. Há quem diga que somos pessoas de hábitos mas, "quando se introduzem serviços que são convenientes para as pessoas, elas adotam-nos", sublinhou..Tomás Sérvulo, chefe de Transformação de Motor e Mobilidade da Fidelidade, por seu lado, afiança que existe uma "tendência para menor posse de carro próprio", e que a autonomia dos veículos e reorganização logística vai exponenciar a "partilha"..As cidades sofrerão uma transformação quando a mesma procura for satisfeita com menos oferta, o que passará por "mais veículos autónomos e perda de relevância do veículo particular", que está estacionado grande parte do dia. Isso vai "devolver muitíssimo espaço das cidades às pessoas", acrescenta..Os dados já vão ajudando a melhorar a mobilidade, havendo menos acidentes e intensidade de tráfego - o que terá implicações no custo do seguro, ou seja, "o que se cobra vai diminuir à medida que haja menos acidentes", assegurou Tomás Sérvulo. Para o responsável da Fidelidade, é importante trabalhar "mais e melhor" os dados. "Não basta que existam, é preciso usa-los para tomar decisões"..Sofia Tenreiro, líder do setor Energy, Resources & Industrials da Deloitte, acredita que as pressões causadas pelo elevado número de habitantes nas cidades e as pressões da sustentabilidade, fazem com que o tema da mobilidade tenha de "acelerar". Mas a mobilidade como serviço "não tem uma plataforma comum", passando pelos donos dos carros, das infraestruturas, das plataformas, pela regulação legal, etc...É preciso haver partilha para permitir uma melhor gestão da cidade. No entender de Sofia Tenreiro, "têm de ser as entidades públicas a garantir que há plataformas comuns e uma regulação que permite essa partilha", até para garantir a "segurança dos dados e dos veículos"..A especialista da Deloitte aponta ainda a necessidade de se derrubar outras barreiras, fazendo nomeadamente melhor "planeamento urbano", para termos cidades inteligentes..No futuro que Frederico Vaz, diretor de tecnologia A-to-Be da Brisa, imagina haverá todo um "ecossistema de infraestruturas e veículos conectados e a disponibilizar informação". Essa informação tem de se usada para gerir a forma como as pessoas usam os veículos à sua disposição, numa altura em que os temas de descarbonização e sustentabilidade estão na ordem do dia. E permitirá "otimizar tempo e dar mais qualidade de vida às pessoas", contribuindo para o bem comum, disse Frederico Vaz..Segundo a Brisa, um dos grandes desafios que se apresenta é como vai conseguir ajudar as cidades a evitar que haja congestão ou dificuldades de tráfego. Ou seja, como usar a informação das cidades em termos de fluxos de saída para aumentar a segurança e uso das infraestruturas por parte dos utentes..Outro desafio, o da eletrificação, está no bom caminho, uma vez que na rede da Brisa já é possível encontrar a cada 40 quilómetros postos de carregamento disponíveis.