A independança

Publicado a
Atualizado a

Homem da palavra, há algum tempo que Rui Reininho estava “acorrentado” ao universo dos GNR, mesmo que este legado fosse apenas e só o de alguma da melhor colheita pop alguma vez nascida em Portugal. Mas se no Grupo Novo Rock o passado já não era bem-vindo, na Companhia das Índias abre asas (eléctricas) e dá-nos canções esculpidas por  alguns dos melhores artesãos portugueses. A saber, o cerebral Armando Teixeira, figura central em todo o disco, mas também uma colecção de cromos retirados de uma caderneta valiosa. Por exemplo, o electro pop servido à mesa por João Pedro Coimbra ou o “americano” Yoko Mono com Paulo Furtado na pele do Homem Tigre. E há um sóbrio Laika Virgem na companhia do velho parceiro Alexandre Soares, que recupera a ironia de um Pós-Modernos.


A embriaguez de companhias não é sinónimo de montanha-russa criativa. Armando Teixeira é o general que comanda as tropas e Reininho o chefe do Estado que envia as directrizes. Neste processo, é essencial um génio que se revela em ironia de alta cilindrada. Aquele que podia ter nascido como um álbum de versões é afinal um dos discos mais inventivos saídos da mente de um dos poucos ícones pop com vida e obra que sustentem esse epíteto. É que mesmo a leitura para um possível Waterloo português, Bem Bom das Doce, é séria sem ser austera. E até o cravo que desenha toda a estrutura da canção  exprime bem o sentimento de Reininho nesta altura: humor sim mas inteligente e sempre atento a uma sociedade que vive dividida entre a alta costura e a alta cultura.


Enquanto objecto pop total, Companhia das Índias é raro e contraria uma geração atiçada por momentos singulares. Provavelmente, este deveria ter sido o irmão mais velho de Popless, dos GNR. Assim, é o disco pop português nascido em 2008 mais rico e inventivo.


4/5
'Companhia das Índias'
RUI REININHO
SONY

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt