É hoje costume dizer-se que Portugal possui a geração mais qualificada de sempre. Como revelava um retrato recente da Pordata, nunca como hoje tivemos tantas pessoas a frequentar o Ensino Secundário e o Ensino Superior, nalguns casos em percentagem acima da média europeia..Mas é fundamental que este aumento de qualificações se reflita na produtividade do país e, a final, no seu crescimento económico..Por um lado, é essencial garantir que os jovens qualificados encontram em Portugal condições para residir e trabalhar, e que não saem para o estrangeiro de forma massiva..Por outro lado, é importante assegurar que o mercado de trabalho consegue absorver as pessoas com essas qualificações, evitando não apenas a fuga de cérebros, mas também o desperdício de cérebros, que consiste em atribuir a pessoas qualificadas tarefas abaixo ou diversas do seu nível de qualificação..Um outro desafio conexo é a questão da qualificação dos gestores. Como é sabido, o tecido empresarial português é composto, na sua esmagadora maioria, por pequenas e médias empresas. Estudos académicos, como o de Francisco Queiró, da Nova SBE, demonstram que as qualificações dos gestores são, em média, baixas, e que isso tem reflexos na produtividade das empresas..Acrescentaria que esse baixo nível de qualificações dos gestores tem ainda duas importantes consequências negativas: dificuldade no acesso ao financiamento e na retenção de talento..A dificuldade do acesso ao financiamento resulta da baixa literacia financeira ou mesmo incapacidade de lidar com a complexidade e sofisticação dos mercados financeiros..A dificuldade na retenção de talento é uma consequência natural na medida em que a falta de qualificações do gestor leva à incompreensão quanto à necessidade de atrair e reter pessoas altamente qualificadas..Por ser um tema-chave para o futuro do país e o seu desenvolvimento económico, a Fundação Francisco Manuel dos Santos encontra-se a estudar aprofundadamente o tema das qualificações, o qual tinha já sido identificado no estudo coordenado por Fernando Alexandre Do Made In ao Created In: Um novo paradigma para a economia portuguesa, como central..Esta reflexão implica olhar de forma integrada para o país: para os recursos existentes, para as necessidades atuais e futuras, e para as reformas, económicas e legislativas que se revelem necessárias para esta transição..Não é um tema fácil, naturalmente, porque implica olhar para a estrutura da nossa economia, repensando-a, do nosso tecido produtivo, e propor alterações significativas..Mas os tempos são de mudanças, os desafios que Portugal enfrenta, desde logo demográficos, são tremendos, sendo a sustentabilidade futura do nosso modelo económico que está em causa..Quando se celebram as cinco décadas da nossa democracia, é oportuno assinalar o muito que já foi feito, mas também tudo o que ainda falta fazer..Assim possamos aproveitar a oportunidade..Presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos