A importância das notícias verdadeiras no meio das pandemias simultâneas de Covid-19 e notícias falsas

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Mais de 150 redações de todo o mundo reúnem hoje, segunda-feira, para assinalar o Dia Mundial das Notícias (World News Day), incluindo jornalistas de Toronto a Taipei, de Espanha a Singapura.

No entanto, esta não é uma ocasião para os jornalistas darem palmadinhas nas costas uns dos outros pelo trabalho que fazem. Em vez disso, o foco está em como os jornalistas fazem as reportagens sobre questões importantes para o nosso público.

Perante o surto da Covid-19, as pessoas têm-se voltado para os jornalistas profissionais como nunca até aqui.

Elas querem respostas sobre como se manterem seguras e como protegerem os seus empregos. Elas precisam de saber os factos. Elas precisam de ajuda para separar os factos da ficção, no meio da pandemia de notícias falsas que também se tornaram virais. Elas procuram figuras em quem possam confiar para as ajudar a unir os pontos, para dar sentido a estes tempos confusos.

Numa época em que tantas coisas mudaram, uma coisa ficou clara: as notícias verdadeiras são importantes. A verdade é importante. A objetividade é importante. Equilíbrio e imparcialidade são importantes. Em suma, o jornalismo de qualidade é importante.

Essas são as marcas registadas das redações profissionais. Essas redações esforçam-se para contar as histórias que são importantes para as comunidades que servem.

Vejamos os exemplos que se seguem: em março, o grupo de comunicação social brasileiro 100 Fronteiras contou a história do trauma causado pelo encerramento repentino da Ponte da Amizade Internacional entre as cidades de Ciudad del Este no Paraguai e Foz do Iguaçu no Brasil. "Muitas famílias tiveram de se separar. Pessoas que moram na Foz, mas têm parentes do outro lado da ponte e agora só se veem no ecrã do telemóvel. "Nunca na história do mundo um abraço foi tão desejado. Sim, as pessoas realmente só valorizam quando não podem. Agora estamos a sentir isso na pele e dói."

Do outro lado do mundo desenrolava-se uma história semelhante de separação e perda. Na minha cidade natal, Singapura, a ponte terrestre popularmente conhecida como Causeway, que muitos usam para atravessar para Johor Bahru, na Malásia, também teve de ser fechada para conter a disseminação do vírus. Famílias, trabalhadores, empresas e comunidades, que estavam interligados há décadas ficaram, de repente, privados uns dos outros. As suas histórias foram contadas nas páginas do The Straits Times.

Perante uma pandemia global, a nossa humanidade comum também ressoou em histórias de coragem e esperança que muitas redações relataram. Numa reportagem especial em fevereiro, intitulada "Na linha de frente do coronavírus", traçámos o perfil dos médicos, enfermeiros e funcionários em Singapura que estavam a lutar contra o vírus. Da mesma forma, a imprensa canadiana relatou num artigo em abril a jornada angustiante de um doente das urgências para a unidade de cuidados intensivos e, finalmente, para a recuperação e reabilitação, destacando as muitas pessoas que ajudaram a salvar a vida de um homem.

Em todo o planeta, as redações têm trazido essas histórias para o nosso público, não apenas para informar e educar, mas também para inspirar e animar as comunidades.

No processo, a Covid-19 lembrou-nos de muitas coisas que tínhamos tomado como garantidas. Tornou clara a importância da boa governação, o valor da confiança nos líderes e instituições e o consolo e a força que as famílias e as comunidades fornecem. Também destacou o papel crucial que uma comunicação social credível e confiável desempenha na saúde e no bem-estar das nossas sociedades.

Ironicamente, no entanto, a pandemia também representou uma ameaça existencial para muitas redações. Embora as audiências tenham aumentado, as receitas e os recursos caíram a pique, tornando mais difícil para os jornalistas continuarem a fazer o seu trabalho.

O Dia Mundial das Notícias é uma oportunidade para refletirmos sobre a importância disso.

As notícias verdadeiras são importantes se quisermos dar sentido aos desnorteantes acontecimentos à nossa volta. O jornalismo credível é fundamental se quisermos ter debates informados sobre para onde podemos estar a dirigir-nos num mundo pós-pandémico. As redações que estão envolvidas com os seus leitores podem ajudar a unir comunidades num momento de mudanças terríveis.

Na verdade, como o escritor francês Albert Camus refletiu no seu romance, A Peste, que conta a história de como os habitantes de uma cidade chegaram a um acordo com um surto mortal: "O desejo mais forte era, e seria, comportar-se como se nada tivesse mudado ... mas, não se pode esquecer tudo, por mais que se queira; a peste estava destinada a deixar vestígios, de qualquer forma, no coração das pessoas."

Intencionalmente ou não, os "vestígios no coração das pessoas" que ficarem após a Covid-19 terão de ser tratados, quando a pandemia que agora ainda grassa em todo o mundo acabar por passar.

As sociedades que continuarem bem servidas por boas organizações de comunicação social estarão em melhor posição para o fazer. Jornalistas profissionais e redações serão vitais para ajudar as comunidades a entender a paisagem devastada em seu redor. Eles também serão essenciais para as conversas honestas que serão necessárias para descobrir o caminho a seguir.

É por isso que o sucesso e a sustentabilidade da comunicação social são importantes - agora mais do que nunca - para todos nós.

Warren Fernandez é o editor-chefe do The Straits Times, a principal organização de comunicação social em inglês de Singapura

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