A ilha mais populosa do mundo vai ficar sem capital

A ilha de Java vai deixar de albergar a capital da Indonésia. Jacarta afunda-se e o antigo plano de relocalização vai concretizar-se na ilha dos orangotangos, Bornéu.
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O parlamento indonésio aprovou na terça-feira uma lei que aprova a relocalização da sua capital, Jacarta, a afundar-se lentamente, para um local a 2000 quilómetros de distância, na ilha de Bornéu, que será chamada Nusantara.

A votação da Câmara dos Representantes fornece o quadro legal para a mudança, que foi dado a conhecer pela primeira vez pelo presidente Joko Widodo em abril de 2019, citando a subida do nível do mar e o grave congestionamento na densamente povoada ilha de Java, lar de mais de 30 milhões de pessoas na grande área metropolitana​​​​​​ e para cima de 145 milhões de uma ponta à outra. ​

Jacarta há muito é atormentada por graves problemas de infraestruturas e inundações, os quais são exacerbados pelas alterações climáticas, com peritos a preverem que até um terço da cidade poderá estar submersa em 2050.

A nova capital cobrirá cerca de 56.180 hectares na província de Calimantão Oriental na parte indonésia da ilha de Bornéu, que o país partilha com a Malásia e Brunei. Ao todo, foram reservados 256.142 hectares para o projeto, com as terras adicionais destinadas a uma potencial expansão futura.

Os primeiros planos para a nova capital retratam um desenho utópico destinado a criar uma cidade "inteligente" amiga do ambiente, mas poucos pormenores foram transmitidos.

Os planos para iniciar a construção em 2020 foram dificultados pelo início da pandemia de covid-19.

Ambientalistas críticos da mudança da capital advertiram que a mesma ameaça os ecossistemas da região, onde a exploração mineira e as plantações de óleo de palma já põem em perigo as florestas tropicais que albergam espécies gravemente ameaçadas de extinção do Bornéu, como os orangotangos, o pangolim-malaio ou o calau-de-capacete.

Na segunda-feira, Widodo disse que a nova capital seria uma "onde as pessoas estão próximas de qualquer destino, onde podem andar de bicicleta e caminhar por todo o lado porque há emissões zero".
"Não terá apenas escritórios governamentais, queremos construir uma nova metrópole inteligente que possa ser um íman para os talentos globais e um centro de inovação", disse num discurso numa universidade local.

Nusantara, que significa "arquipélago", foi escolhido de uma lista de 80 nomes porque era amplamente reconhecido pelos indonésios e fácil de memorizar, disse o ministro do Desenvolvimento, Suharso Monoarfa, na segunda-feira.

A nova cidade será governada por um órgão apelidado de Autoridade da Capital do Estado, com liderança nomeada para mandatos de cinco anos diretamente pelo presidente, de acordo com a legislação aprovada.

Os detalhes orçamentais ainda não foram revelados, embora relatórios anteriores tenham fixado os custos do projeto em 29 mil milhões de euros.

A Indonésia não é o primeiro país da região a deslocalizar-se de uma capital superpovoada. A Malásia transferiu o seu governo de Kuala Lumpur para Putrajaia em 2003, enquanto a Birmânia transferiu a sua capital de Rangum para Naipidó em 2006.

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