A Idade do Gelo: adivinhem quem ainda não se extinguiu

O quinto filme da franchise "A Idade do Gelo" chega hoje às salas de cinema nacionais e promete mais um caos provocado pelo esquilo Scrat, atrás da sua bolota, numa odisseia que se desenvolve no interior silencioso de uma nave.
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Está de volta ao grande ecrã o mais famoso e narigudo esquilo da animação, Scrat, a comandar involuntariamente outra catástrofe alheia, no meio dessa zelosa tarefa contínua que é a perseguição de uma bolota. Desde 2002 que não a larga, seja qual for o cenário... Vamos no quinto filme da franchise A Idade do Gelo, e parece que o desejo contabilístico não está nem aí para o facto de o assunto já ter praticamente derretido.

Aliás, a ideia da continuidade deve ser mesmo a de chover no molhado, porque, verdade seja dita, o box office da série vai crescendo no sentido inverso ao entusiasmo da crítica (em franco e natural decréscimo ao longo dos anos), vindo competir diretamente nas bilheteiras com o recente À Procura de Dory.

O que fazer? Vamos lá então a mais uma aventura Ice Age - que é sempre de combate à extinção - com a panóplia de espécies que nos foram apresentadas nos quatro filmes anteriores: os mamutes Manny e Ellie, a preguiça fala-barato Sid, a doninha de pala no olho Buck, o tigre-dentes-de-sabre Diego e a namorada, Shira.

Mas há mais. Desta feita, Peaches, a filha do casal de mamutes, está prestes a casar com Julian (para inquietação do pai, que como sogro que se preze só poderia não gostar do genro) e uma das variações deste A Idade do Gelo: O Big Bang é, justamente, a exploração desse retrato mais humanizado das relações familiares, a conferir um enredo secundário para aliviar em parte a laboriosa trama principal, com vários problemas de fundamento científico...

Como o novo subtítulo anuncia, depois da primeira sequela Descongelados (2006), do Despertar dos Dinossauros (2009), e da Deriva Continental (2012) - todos tópicos à volta da paleontologia - só faltava dar um pezinho na astrofísica, e não há nada mais arrojado e definitivo do que a teoria do Big Bang. Mas vale a pena esclarecer que esta não corresponde aqui à noção da origem do universo que aprendemos na escola. Não, a palavra de ordem (até para manter alguma coerência em relação aos episódios precedentes) é sempre a corrida contra a extinção, por isso, ao invés de qualquer coisa para nascer, o que sucede é algo em vias de desaparecer. E a lançar o pânico na terra, diretamente de uma nave espacial, temos, pois claro, Scrat e a sua amada bolota, em desafio à gravidade. Segue-se um autêntico jogo de pinball no sistema solar, que resulta na abertura de uma rota de asteroides em colisão com a terra.

O esquilo e a bolota

A pequena odisseia que se desenvolve no interior silencioso da nave é, para todos os efeitos, o momento mais divertido do filme, ainda que a repetição da narrativa minimal já vá dando sinais de cansaço. Mike Thurmeier, que assina este quinto filme ao lado de Galen T. Chu, tem certamente um contributo fundamental na conceção dessa fatia com uma identidade singular, ou não fosse ele um dos realizadores da curta-metragem No Time for Nuts (2006), em que o esquilo encontra uma máquina do tempo.

Contudo, no reverso da simplicidade e da eficácia desta fórmula esquilo-bolota, A Idade do Gelo: O Big Bang aderiu à moda dos apocalipses, uma espécie de bengala narrativa que tem sido usada com bastante frequência, como sustentáculo de sequelas em que, não havendo mais nada para contar, rebenta-se com tudo e, nos intervalos disso, introduz-se umas piadas. Não é que crianças abaixo dos 9 anos não apreciem todo o carnaval das imagens, não ligando muito ao nexo das coisas, mas qualquer adolescente e adulto (que seria também um público interessado nos primeiros momentos da série) acaba por se aborrecer com a mistura insípida de novela familiar e gagues encarrilhados sem particular brilho ou sentido.

Curiosamente, o filme acaba por cair na consciência do seu despropósito e na mescla das personagens há ainda um lama guru que alerta para a necessidade de "não stressar", mesmo que a Terra esteja a ser atingida por asteroides. E é isso. O importante é que continue a girar, assim como se sucedem os Ice Age. E já se diz que haverá um sexto...

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