A holandesa que saiu da zona de conforto para ser tecelã no Alentejo
Helena Loermans veio pela primeira vez a Portugal em 1987, apenas como turista. Natural de Nimegue, na Holanda, trabalhava na altura como analista num laboratório que estudava as doenças musculares em ratos. A tecelagem era então apenas um passatempo. Hoje em dia é a sua profissão. Instalou-se em Odemira, no Alentejo, onde tem o seu ateliê num edifício de dois andares na zona histórica da vila. Aí trabalha com teares manuais ou ligados a um computador e produz a sua própria coleção de têxteis.
"Apaixonei-me pela luz e pelas paisagens e, depois de aprender português, pela maneira de ser dos portugueses. A luz do sol é, para mim, fundamental para fazer uma escolha das cores. Na Holanda, o céu está muito perto. Aqui há mais espaço, mais ar, isso reflete-se em tudo", conta ao DN a tecelã de 64 anos. E não foi difícil deixar tudo e vir para Portugal? "Não foi difícil porque eu queria novos desafios na vida e ver outras realidades. Se toda a gente fizesse isso, saísse da zona de conforto, se se colocasse perante certos desafios, talvez o mundo fosse diferente."
Após decidir trabalhar nesta área, Helena estudou design e tecelagem Jacquard na Fondazione Arte della Seta Lisio na cidade italiana de Florença. O tear de jacquard é um tear mecânico inventado pelo francês Joseph Marie Jacquard em 1801. "Um dos meus teares é ligado a computador. Olhe, é um Macintosh Plus, foi dos primeiros da linha Macintosh. Gostava de ter um mais moderno, é verdade, mas este ainda funciona muito bem", diz a tecelã, que tem uma página no Facebook e um blogue dedicado ao seu trabalho (http://helenaloermans.blogspot.pt).
De Odemira para o mundo (além de vender em ateliê e feiras também vende através da internet), Helena faz sobretudo lenços e chapéus-de-sol. Em quantidades restritas, por encomenda, porque é ela quem faz tudo sozinha. "Às vezes quando vou à praia levo um destes chapéus-de-sol feitos por mim e algumas pessoas vêm fazer-me perguntas sobre eles", conta, explicando que a ideia surgiu quando começou a ver chapéus-de-sol abandonados. Resolveu reciclar. Aproveitando essencialmente a armação. "O vento passa através dos buracos do entrelaçado dos tecidos e isso torna-os mais resistentes. As cores também dão mais alegria aos chapéus. Há de vários tamanhos. Os maiores têm dois metros e meio e armação de alumínio." O preço ronda os 350 euros cada. "Vou ter tecidos mais resistentes aos raios ultravioletas pois aqui o sol é muito forte."
No período entre 2000 e 2010, Helena andou pelo país a dar formação. Trabalhou por exemplo nas Aldeias de Xisto, no projeto da Casa das Tecedeiras. "Mas é em Odemira que sinto que é a minha casa. Sempre fui uma pessoa da planície", confessa, dizendo que sempre se sentiu bem recebida, integrada e muito respeitada. "Os portugueses são simpáticos, abertos, respeitam a privacidade dos outros. Sinto-me feliz aqui", afirma a tecelã, que também organiza workshops no seu ateliê e recebe jovens empreendedores no âmbito do programa europeu Erasmus for Young Entrepreneurs.
E se outrora viajou muito em Portugal, agora anda mais pelo resto da Europa. "Esta é a minha casa, mas sou europeia, gosto de ir a todo o lado." As recriações de telas com textura, de pintores como El Greco e Diego Velázquez, levaram-na já ao Museu do Prado em Madrid e, em breve, levá-la-ão à National Gallery em Londres. "Escrevi para museus de vários países a perguntar mais informações sobre pintores que usaram telas com textura. Aqui em Portugal também queria saber se houve pintores que usaram este tipo de telas. Escrevi a vários museus e pessoas." Agora, aguarda pelas respostas.