A história repete-se?
Uma boa notícia: a de saber que um conjunto de federações desportivas juntamente com a Autarquia de Oeiras e a Administração Pública desportiva assinaram um acordo para estudar a reabilitação de diferentes espaços do Complexo Desportivo do Jamor, supostamente canalizando verbas do PRR.
Mas uma notícia que, no essencial, se não distingue daquela que em 2014 anunciava que o Governo iria investir 20 milhões ao longo da próxima década para reformular o Complexo Desportivo Nacional do Jamor, de acordo com o novo Plano de Gestão e Ordenamento para aquele espaço. O plano assentava, todo ele, no princípio da partilha das responsabilidades e de gestão com as federações desportivas. Foi apresentado com pompa e circunstância própria dos atos relevantes. E os depoimentos recolhidos, à data, não se distinguem dos atuais: convicção de que alguma coisa iria mudar e para melhor.
Contrariamente ao afirmado pelo primeiro-ministro, de que o Complexo Desportivo do Jamor "tem sido negligenciado durante décadas", nove anos depois daquele anúncio o Complexo recebeu várias e importantes beneficiações, mérito de governos do Partido Socialista e designadamente de Laurentino Dias e de quem se lhe seguiu. Como recebeu significativas benfeitorias ao nível do Parque Urbano e na despoluição da Ribeira do Jamor graças ao empenho da Câmara Municipal de Oeiras. O Complexo Desportivo do Jamor melhorou, mas está longe, é verdade, como o protocolo agora assinado indicia, de corresponder ao necessário.
De designada joia da coroa, a campo de refugiados, a zona de prostituição e local de habitação clandestina durante mais de uma década, o Jamor tem sido um cemitério de promessas e intenções. E, persiste, na qualidade de espaço desportivo e de lazer, como zona de atravessamento viário onde circulam diariamente milhares de veículos, porque as variantes estudadas para desviar o trânsito do coração do Jamor têm sido infrutíferas. Ora tão importante como a requalificação dos espaços desportivos e de lazer é retirar o trânsito do seu interior, requalificando o Complexo na sua globalidade. Não é por falta de estudos, não é por ausência de alternativas. É por ausência de capacidade política para resolver um problema que está mais que estudado e cujas soluções são conhecidas.
As discussões arquiteto-paisagísticas são importantes, de modo a resguardar e a preservar uma importante memória da arquitetura desportiva nacional, bem como a sua articulação com os projetos imobiliários anunciados para uma parte do Alto da Boa Viagem e para a zona ribeirinha subjacente. E nessas discussões importa sempre não descurar a função essencial do Parque Desportivo do Jamor como área e equipamento de lazer desportivo, de recreação e de apoio ao alto-rendimento. E sobram ainda os já anunciados propósitos de lá instalar o Museu Nacional do Desporto e um novo Centro de Estágio para desportistas.
Os desígnios agora definidos obrigarão a uma reavaliação do modelo de gestão de todo o Complexo, atendendo à presença de varias entidades com "gestão de parcelas" próprias, mas também comuns. E deixa de fora o Complexo de Piscinas, onde se localiza uma cuba de saltos há anos inoperacional, e cujo alcance na conciliação entre o ensino, a recreação e o alto-rendimento está longe de estar resolvida.
Apesar de tudo é bem melhor pouco, bem feito, do que muito anunciado e pouco realizado. É o que se espera deste anúncio.
Presidente do Comité Olímpico de Portugal