Deitado na cama do hospital, um homem de cem anos revê o filme da sua vida. Fala com a filha, com as enfermeiras, com quem o quiser ouvir e vai contando a história da sua família - desde os antepassados portugueses, passando pelo Império e pela ditadura, até à actualidade. Esta saga familiar é assinada por Chico Buarque no seu mais recente livro, intitulado Leite Derramado. .Esta é a quarta obra de ficção do compositor brasileiro, autor de canções intemporais como A Banda ou Construção. Chico Buarque, actualmente com 65 anos, sempre mostrou que gostaria que a sua escrita fosse mais além da poesia das canções e, além de peças de teatro (Roda Viva, 1968; Calabar, 1973; Gota D'Água, 1975; e Ópera do Malandro, 1970), publicou também a novela Fazenda Modelo (1975 ) e os romances Estorvo (1991), Benjamim (1995) e Budapeste (2003)..Mas só com Budapeste o seu talento foi reconhecido - pela crítica e pelo público. Premiado, Budapeste acabou também por se tornar um filme, dirigido por Walter Carvalho, com estreia marcada para 22 de Maio no Brasil..Ninguém duvida que, por enquanto, o Chico compositor é muito melhor do que o Chico romancista. Mas a verdade é que os seus livros são já best sellers: Estorvo vendeu 180 mil exemplares, Benjamim, 85 mil, e Budapeste, 275 mil. "Se Chico voltasse a lançar um disco hoje, certamente não venderia tanto", escreve Luís Antônio Giron, na revista Época. Leite Derramado saiu com uma primeira edição de 70 mil exemplares e espera-se que venda muito mais do que isso. .No Jornal do Brasil, Reinaldo de Moraes confessa que o livro "se deixa ler com avidez e um prazer tão romanesco quanto intelectual". Também Giron diz que a quarta narrativa de Chico Buarque "é a melhor de todas e a mais cinematográfica". A solidão e a decadência são temas recorrentes em Chico. O Leite Derramado também é isso - a derrocada, a tragédia irreversível. Vista com o olhar de quem está à beira do fim.