A HISTÓRIA DE PORTUGAL QUE O BRASIL DESCONHECE
Os números impressionam: 176 peças - incluindo 27 tesouros nacionais - cedidas por 46 instituições. Tudo para contar o passado de Portugal que os brasileiros não conhecem (ou conhecem mal), da Pré-História aos Descobrimentos. "Lusa - A Matriz Portuguesa", assim se chama esta megaexposição, é inaugurada a 11 de Outubro no Rio de Janeiro e poderá receber, segundo estimativas "tímidas", 750 mil visitantes.
Aprovados já os requisitos de segurança, mas ainda sem aval do Governo português para deixar sair os tesouros a mostra é promovida pelo Banco do Brasil e será exibida nos seus centros culturais do Rio (até 10 de Fevereiro) e Brasília (Fevereiro a Maio de 2008). O orçamento global ascende a um milhão de euros e é integralmente suportado por aquela instituição, com apoio do Turismo de Portugal para a divulgação dos sítios de origem das peças.
Ocupando os três pisos do edifício do Rio, que recebe por ano mais de três milhões de pessoas, esta é a última parte de uma trilogia dedicada pelo banco à formação étnica e cultural do Brasil, que já se traduziu nas mostras "Arte da África" (em 2003) e "Antes - Histórias da Pré- -História" (sobre a América, em 2004-5). Marcello Dantas, coordenador-geral do projecto, explica ao DN que "Lusa" é também "a primeira de uma série de exposições que celebram os 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil e os 200 do Banco do Brasil", fundado em 1808 por D. João VI.
Aqui, "uma das premissas é olhar para a matriz miscigenadora de Portugal, um país que já trazia a 'bagagem' dos romanos, árabes e judeus quando chegou à América do Sul", acrescenta. E o que a exposição se propõe retratar é esse passado, desde os primitivos e celtiberos aos povos germânicos, do domínio romano às presenças cristã, judaica e árabe, da guerra da Reconquista e da formação das fronteiras (em 1297, com o Tratado de Alcanices) ao apogeu com os Descobrimentos, a "primeira iniciativa de globalização". Ou seja, Portugal como espaço de cruzamento de culturas, entre Norte e Sul da Europa, Atlântico e Mediterrâneo.
Organizada de forma narrativa e destinada ao grande público, a exposição abordará, no primeiro andar do edifício, os vários períodos e influências religiosas, dedicando o segundo andar às descobertas científicas, Descobrimentos e importância do comércio e da língua. No átrio de entrada ficará uma grande instalação cenográfica, onde os visitantes se podem deitar para ouvir as sonoridades do português e palavras de origem árabe, latina, indo-europeia, africana e indígena do Brasil.
Com consultoria científica de nove curadores portugueses "Lusa - A Matriz Portuguesa" terá um guerreiro de granito, um torque de ouro, lanças, cerâmicas, azulejos, estelas, pinturas, esculturas, mapas, astrolábios, livros e instalações multimedia sobre a formação da língua, arquitectura e paisagem. "Será surpreendente ver o quanto do século XV ficou vivo no Brasil", conclui Marcello Dantas.|