A história, a linha e o limite

Inaugurou-se ontem, no Museu do Chiado, em Lisboa, a mostra 'Nadir Afonso - Sem Limites'.
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"Esta é a primeira retrospectiva sistematizada do primeiro período da obra de Nadir Afonso", declara Adelaide Ginga, curadora da exposição "Nadir Afonso - Sem Limites", que se debruça sobre a produção artística do pintor entre o início da década de 30 e o final dos anos 60, período escolhido para fixar a transição da obra de Nadir Afonso para aquele que se pode considerar o período "contemporâneo" da sua prática.

Inaugurada ontem, pelas 21.00, no Museu do Chiado, em Lisboa, depois de ter estado até dia 13 no Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), esta exposição foi planeada com o intuito de "conhecer melhor aquele que é um artista pouco celebrado no panorama artístico português, cujo percurso tem sido algo desvirtuado", segundo Adelaide Ginga.

"Nadir Afonso tem uma passagem marcante em momentos- -chave da arte portuguesa [como a sua incursão pelo surrealismo a partir de 1946, antecipando o segundo fôlego do movimento por largos meses], mas como esteve ausente de Portugal por longos períodos, acabou por ser algo ignorado pelos historiadores e críticos da época."

Assim, a exposição procura a fixação historiográfica do percurso de Nadir Afonso, separando as obras em áreas que, se não seguem um critério cronológico rígido, têm uma clara delimitação temática e metodológica.

Da "primeira modernidade" dos anos 30, início da sua carreira, à área denominada "As Cidades", período no qual delimitou, pelo menos em termos temáticos, o percurso que prosseguiria nas décadas seguintes, "Nadir Afonso - Sem Limites" incide ainda sobre a aproximação de Nadir Afonso ao surrealismo, o seu período "Pré- -Geométrico" (iniciado após a sua ida para Paris em 1946, onde subsequentemente trabalhou no atelier do arquitecto Le Corbusier), a sua inflexão neobarroca, caracterizada pela adopção de motivos espirais e florais conjugados com a reduzida mas incisiva paleta de cores que adoptara ainda em França, o seu período egípcio, onde a sua ligação com a arquitectura é, de resto, mais evidente, e o período ostensivamente mais rít-mico e distilado da sua carreira, "Espacillimité", nome que deu à inovação estética que desenvolveu na sequência do seu regresso a Paris em 1957.

Desde os desenhos e estudos originais integrados na exposição, que reforçam a dimensão arquitectónica da sua pintura, à recolha científica e fixação histórica levada a cabo pela curadoria da exposição, esta é, senão o mais importante, o mais pertinente panorama de uma das carreiras mais longas da arte nacional.

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