"A haver acordo do PS com Rui Moreira devia ser depois das eleições"
Está satisfeito com a forma como o PS tem preparado as eleições autárquicas do próximo ano?
Penso que está a ser feito um trabalho muito positivo e que se saúda. O Partido Socialista encara a vida autárquica como uma atividade muito importante. Desde sempre.
Não o incomoda que o PS não tenha uma candidatura à segunda maior autarquia do país?
A minha missão não é exatamente emitir estados de alma [risos]. Portanto, não me sinto em condições de poder responder.
Mas nós estamos preparados para, se quiser emitir o seu estado de alma, o poder ouvir e tentar perceber.
No meu ponto de vista, o Partido Socialista deve apresentar candidaturas a todas as câmaras municipais do país, a todas as assembleias municipais do país, a todas as assembleias de freguesia do país. A vida política é, essencialmente isto: é podermos confrontar opiniões diferentes, políticas, propostas políticas diferentes, políticas públicas diver-sas e os cidadãos escolherem. Essa clareza ajuda muito.
Está a dar de facto a sua opinião, porque o Partido Socialista já decidiu, de facto, que no Porto não terá candidato e que apoiará Rui Moreira.
É uma pessoa respeitável. Mas o meu entendimento, seja no Porto, seja em Coimbra, seja em qualquer outro município do país, é que a haver acordos é depois...
Como militante do Partido Socialista , apoiou António José Seguro contra António Costa. Admite que esse facto pode fazer que não seja o candidato natural do PS quando o PS tiver de nomear o seu candidato à liderança da ANMP?
Eu sou militante do Partido Socialista desde 1 de maio de 1974. E o Partido Socialista, para mim, é uma entidade fundamental. Sou defensor da democracia representativa, que é a democracia responsável. Respeito alguns aspetos da chamada democracia participativa, mas é necessário refletir mais detalhadamente sobre essa forma de designar a democracia. Defendo a democracia representativa e estou disponível, como cidadão, para o trabalho que o Partido Socialista me confie e que outras entidades públicas me queiram confiar. E assumo por inteiro, sem problema, o facto de ter sido mandatário nacional de um grande socialista, António José Seguro. Não me arrependo disso, do mesmo modo que assumo claramente que o primeiro-ministro, António Costa, e o secretário-geral, António Costa, têm sido um excelente primeiro-ministro e um bom secretário-geral do Partido Socialista. Tem sido agregador, coordena equipas, tem mostrado que é confiável e confia - e isso é importante para um político nos tempos de hoje. E os desafios que temos para enfrentar merecem que dediquemos assim a nossa vida política e não de outro modo.
Há um ano o país, de alguma forma, acabou por ser surpreendido por uma coligação inédita entre os partidos de esquerda. Aliás, mesmo dentro do PS houve quem pusesse em causa ou questionasse esta solução política. Um ano depois, como é que a geringonça tem funcionado, na sua opinião?
Observo eu - e não sou, de certeza, o único - que, sendo uma solução de risco que foi assumida, no início não parecia merecedora de confiança. Eu creio que os resultados alcançados, o caminho feito, no concreto, incluindo na relação com as autarquias portuguesas, tem sido extremamente positivo. É uma agradável surpresa, foi um acordo político sério, com as implicações no resultado final, que partiu do respeito entre entidades, partidos políticos, que são o esteio da democracia, são as colunas da democracia política em Portugal, que é essencial, e o resultado é muitíssimo positivo.
O balanço é positivo. O que é que terá corrido menos bem, este ano, na sua opinião?
Bom, quando se adota este caminho de governação, há sempre escolhos, há sempre pedras no caminho, há sempre riscos. Direi que o que parece não estar a correr demasiado bem, embora agora esteja a entrar no caminho, enfim, esperançoso do bom resultado, é a questão da Caixa Geral de Depósitos.
Que responsabilidades tem o governo nessa matéria?
Penso que há aspetos que não foram bem conseguidos, que poderiam ter sido evitados. Mas sublinho que uma boa parte destes problemas resultam do modo como as instâncias europeias se relacionam com os Estados membros, em especial com os Estados membros que passam maiores dificuldades, que são os do Sul da Europa. Hoje, a sensação que há é que esta Europa está esquecida de si própria. Portanto, está a caminhar para o individualismo...
O PS esteve dividido na altura das eleições presidenciais, apoiando Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. Acabou por ganhar um adversário político, que era um ex-líder do PSD. Como é que vê a relação dos diferentes partidos com o atual Presidente da República?
O senhor Presidente da República tem tido um desempenho notável: com inteligência, com sabedoria, com sensibilidade e com uma dinâmica... o gosto de estar na política e no cargo é estimulante para qualquer português. E é ponto de admiração - ainda há poucos dias o testemunhei em Coimbra, na universidade - a surpresa com que turistas japoneses e de outros países (há muito turismo em Coimbra e no país também), ao encararem, numa pequena delegação que estava a deslocar-se, numa cerimónia nos Gerais da universidade, a naturalidade com que ele encarava as pessoas e a surpresa com que as pessoas o encaravam, sobretudo os estrangeiros. Tem feito bem o seu trabalho, tem feito o trabalho de modo sensível em relação àquilo que angustia os portugueses. Tem ajudado a recriar a esperança. O trabalho do governo e da Assembleia da República, o trabalho que tem sido desempenhado pelo senhor Presidente da República, têm todos, temos todos, em conjunto, ajudado a criar a esperança nos portugueses e nas capacidades dos portugueses, a autoconfiança. Portanto, penso que este caminho é inovador. Terá surpresas, é verdade, mas as pedras que são pisadas, deste caminho, são pedras prometedoras de futuro melhor.