A guerra e os media. Não nos calarão!

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Tentando calar os media e não respeitando a liberdade de imprensa, as forças russas, além de implodirem a antena de televisão da Ucrânia, ameaçaram também os meios independentes do próprio país exigindo que não utilizem termos como "guerra". Um desses órgãos de comunicação social foi a rádio independente Ekho Moskvy (Eco de Moscovo), uma emissora histórica entre os media locais. A pressão terá sido de tal modo que a administração decidiu a dissolução da rádio e também do site após ser banida do ar. Foi censurada devido à cobertura que estariam a dar à invasão da Ucrânia, que a Rússia insiste em chamar apenas de "operação especial".

Já na terça-feira tinha sido bloqueado o acesso à Ekho Moskvy e também ao canal de televisão online independente Dojd, culpando-o do mesmo: a maneira como estavam a cobrir a invasão. Os media passaram a ser censurados e condicionados a utilizar apenas as informações fornecidas pelas autoridades lideradas por Putin.

Os órgãos de comunicação social têm de estar atentos e filtrar a informação e a contrainformação, mas devem informar sempre o leitor, relatar os factos, garantir o exercício do contraditório em liberdade, trazer à estampa a opinião diversificada. A receita da liberdade de imprensa é sempre a mesma, não muda. O que mudam são os poderes políticos, mas a coluna vertebral do jornalismo mantém-se, sempre. Não nos calarão!

A violência da guerra não deve ser explorada gratuitamente, mas também não pode ser escondida, até para que sirva de lição sobre o que não fazer. Na Ucrânia, as autoridades falam em dificuldade em cuidar e em enterrar corpos. Kherson, a mais recente cidade que terá sido tomada pelos russos, foi das que mais sofreram. O presidente da câmara disse que "pediu aos russos para não dispararem sobre pessoas", mas na mesma hora os ataques aéreos atingiram várias infraestruturas noutra cidade, Kharkiv, incluindo três escolas e uma catedral.

À medida que a gravidade da guerra - sim, da guerra e não da "operação especial" - aumenta, a pressão sobre os media dispara. O cerco que se avizinha às principais cidades ucranianas deixa em desespero os populares que, com as suas famílias, optaram por ficar em território ucraniano. A lógica de cerco foi recordada pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, lembrando que "o cerco é uma tática russa como aconteceu em Aleppo [Síria] ou em Grozny [Chechénia]".

Nos refúgios seguros, as famílias começam a sentir-se cercadas e asfixiadas pela falta de alimentos e de medicamentos. O presidente da Câmara de Kherson alertou ontem para a dificuldade em fazer chegar bens essenciais às populações. Os mais corajosos, de vez em quando, saem do abrigo para ir a casa cozinhar, tomar um banho quente e regressar ao bunker com alguns mantimentos. Os poucos alimentos que ainda restam nas prateleiras das despensas lá de casa são preciosos. Portugal tem dado o exemplo e quer os portugueses quer os imigrantes ucranianos têm enviado vários camiões de donativos. Toda a ajuda faz falta. Afinal, sem mantimentos, asfixia-se um povo não só pela guerra mas pela fome.

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