A Grande Muralha Verde em África está de volta à agenda

Após anos em constantes lutas devido à falta de fundos, o projeto da Grande Muralha Verde em África está de volta à agenda. 17 mil milhões de euros doados podem ser a solução.
Publicado a: 
Atualizado a: 

Outrora uma paisagem desoladora, o planalto de Simiri, no Níger, é agora um pequeno paraíso para a fauna e flora. Cabras trituram sementes de acácia, esquilos e perdizes estampam o chão, louva-a-deus encontram-se pendurados nas árvores e enxames de gafanhotos devoram a folhagem verdejante.

"Uma pequena floresta milagrosamente renasceu", disse, maravilhado, o governador de Simiri, Moussa Adamou. A transformação faz parte do projeto da Grande Muralha Verde da União Africana - uma linha de defesa maciça contra a desertificação.

Depois de anos de dificuldades de implementação do projeto devido a fundos insuficientes, os esforços para construir a Grande Muralha Verde de África receberam um grande impulso.

A iniciativa relativa a 11 países na orla do maior deserto do mundo foi lançada pela primeira vez e com grande aceitação internacional em 2005, estando até à atualidade numa luta constante contra a falta de fundos.

Mas 2021 pode ser o ano da mudança e o planalto de Simiri pode ser um pequeno exemplo disso.

Este ano, alguns doadores prometeram cerca de 17 mil milhões de euros para o projeto, metade dos quais já foram efetivamente assegurados, durante a cimeira climática da COP26 em Glasgow.

O multimilionário norte-americano Jeff Bezos indicou que sua fundação iria doar o dinheiro que fosse necessário para ajudar a combater a degradação da terra, particularmente em África.

A ideia é plantar diversas árvores e arbustos num corredor de cerca de 8.000 quilómetros de comprimento e 15 quilómetros de largura em toda a África, abraçando a borda sul do Saara.

A União Africana aprovou a iniciativa em 2007, dois anos depois de os líderes de Burkina Faso, Chade, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal e Sudão terem iniciado o plano numa cimeira da Comunidade de Estados do Sahele - Saara em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.

O projeto está a ser coordenado pela Agência Pan-africana da Grande Muralha Verde.
Uma vez concluída, será a maior estrutura viva do planeta, de acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.

A Grande Muralha Verde é o programa emblemático de combate às alterações climáticas e à desertificação em África e visa também combater a insegurança alimentar e a pobreza no Norte de África, no Sahel e no Corno de África.

A região, entre as mais pobres do mundo, também está a sofrer com alguns dos aumentos de temperatura mais acentuados do planeta.

Os objetivos concretos incluem a reabilitação de 100 milhões de hectares de terra degradada até 2030, o sequestro de 250 milhões de toneladas de carbono e a criação de 10 milhões de empregos verdes.

"Não é apenas uma cortina de árvores", disse à AFP o geólogo senegalês Abdoulaye Dia, secretário executivo da Great Green Wall Agency.

Desde 2005, a Muralha Verde recuperou 4,6 milhões de hectares de terras empobrecidas nos 11 países, segundo Dia.

As principais estratégias têm sido a reflorestação e medidas para prevenir a degradação do solo e a sobrepastoreio, disse o geólogo senegalês, observando que o financiamento veio de governos nacionais - bem aquém dos fundos necessários para o sucesso geral do programa - sem, contudo, avançar com um número.

Apesar de todas as dificuldades associadas à falta de financiamento, Dia elogiou o aumento global em "atividades visíveis e tangíveis" ligadas à muralha, dizendo que o projeto que tinha sido criticado como sendo "uma saga sem fim -pode tornar-se, finalmente, uma realidade."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt