A Google aponta ao futuro dos telemóveis após atualizar os Pixel
Captar vídeo noturno em ultra-HD sem perder a ideia de que é de noite mas, ao mesmo tempo, mostrando todo os detalhes da cena. Era esta a promessa feita pela Google no início de outubro, aquando do lançamento da oitava geração do seus smartphones Pixel, com a inclusão do serviço Video Boost - então prometido "para breve".
Dois meses volvidos e eis que chega a funcionalidade, junto com outras (ler mais à frente), com a atualização de dezembro. E o resultado - quase - não desilude.
A Google utiliza os seus novos algoritmos de Inteligência Artificial (genericamente batizados Gemini) para processar, nos seus servidores, as imagens captadas em modo Video Boost e assim conseguir o efeito desejado. Só que o processo é lento - mesmo descontando o upload/download do ficheiro, cuja velocidade depende apenas da ligação à internet do utilizador. Lembre-se, no entanto, de que um vídeo de 30 segundos 4k HDR facilmente ultrapassa o 1Gb de "peso" - pelo que, se estiver na rua, uma ligação 5G ilimitada (ou próximo) é mesmo muito aconselhada.
Neste momento, esse mesmo meio minuto de vídeo demora cerca de meia-hora a ser processado pela Google. Muito tempo só para ver se "ficou bem", convenhamos...
No entanto, este princípio aponta para aquilo que é, sem dúvida, o futuro dos smartphones: a virtualização dos serviços. Por mais capazes que estes computadores de bolso sejam - e máquinas como o Pixel 8 Pro, que estamos a testar desde o dia do seu lançamento, são não apenas das mais poderosas do mercado, como têm um processador desenhado especificamente para correr localmente algoritmos de IA, incluindo alguns do Gemini - as tarefas mais "pesadas" terão de ser sempre passadas para os supercomputadores na nuvem.
Nada disto é verdadeiramente novo, com muitos jogos para telemóvel a utilizarem este tipo de solução. Mas com o atual recurso cada vez maior a algoritmos de IA para tarefas diárias, por um lado, e a maior facilidade de ligação à internet - com menores latências (delays) possibilitadas pelas ligações 5G - deverá conduzir a que seja cada vez mais comum utilizar soluções em que parte do processamento seja passado do telemóvel para computadores algures no mundo. E, com o tempo, as coisas ficarão mais rápidas, espera-se.
Outra das mais interessantes funções introduzidas com a atualização de dezembro da "família" Pixel da Google tem também uma vertente IA, ainda que aparente ser simples: desbloquear o Pixel 8 com o smartwatch Pixel Watch - uma funcionalidade em que a Google estava atrasada relativamente ao ecossistema da Apple (iPhone-Apple Watch).
Agora, basta ter esta função ativada (encontra-a na app do relógio/preferências/segurança), estar com o aparelho no pulso e devidamente desbloqueado - com o PIN próprio para que este desbloqueie o telefone sozinho.
Algo que se revela muito prático uma vez que, ao contrário do que acontece com os mais recentes iPhones, os Pixel não têm câmara frontal de infravermelhos, pelo que o reconhecimento facial, normalmente muito rápido, não funciona com pouca luz. (Em contrapartida, o sensor de impressão digital sob o ecrã é extraordina- riamente preciso, uma funcionalidade que a Apple teima em não colocar nos iPhones, por qualquer razão...)
Muito bem-vinda - em especial para um jornalista, mas acreditamos que dará jeito para muita gente - é a atualização do gravador, incluída neste "pacote" de dezembro, que adiciona Inteligência Artificial à app gravador: este passa a "ouvir" as gravações feitas - e automaticamente enviadas para a nuvem da Google, onde ficam protegidas - e identificadas por escrito no ecrã do telefone, gerando, inclusive, um resumo com os nomes dos intervenientes e empresas. Acabou-se a dificuldade de descobrir o que está gravado em que ficheiro!
A melhorar é a transcrição automática em português, que continua a ser um misto da nossa língua com aquela que é falada no Brasil e, comparativamente com o mesmo sistema para inglês (que é quase 100% exato), deixa mesmo muito a desejar. Neste aspeto, quem vai mesmo mais à frente é a Microsoft, que (pelo menos para já) oferece o serviço até gratuitamente no Word Online.
De regresso à imagem, o algoritmo de "re-focagem" de fotos (Unblur) do Pixel 8 Pro foi melhorado, como prometido, e ainda que não faça milagres consegue resultados muito satisfatórios.
Além disso, existe agora um novo modo balance light, que faz desaparecer as sombras mais "duras".
No Lens, foi adicionada uma interessante função de IA de "limpeza" (Clean) em que o sistema facilmente é capaz de retirar manchas ou borrões de documentos fotografados, reconstruindo a imagem do original.
E ao ligar o telefone a um computador via cabo USB, existe agora uma opção de configurar o smartphone como uma webcam (o Windows instala-o como câmara Android), o que é muito prático para fazer uma videoconferência num computador que não seja seu, em viagem, por exemplo.
Nota final para a autonomia do Pixel 8 Pro. Ao longo destes quase três meses de utilização intensiva - como único telefone para trabalho e lazer - a bateria durou habitualmente mais de um dia sem problemas. Além disso, até aqui a IA ajuda à sua longevidade, com o telefone a ter rapidamente aprendido as rotinas e a "perceber" quando devia entrar em modo de carregamento rápido ou estava na altura de se limitar a um modo lento (até à hora de acordar).
Com todo o enfoque na IA e ainda com capacidade de evoluir - a Google inclui sete anos de atualizações -, este combo smartphone/smartwatch Pixel permanece, para nós, o mais recomendável atualmente no mercado.