Os Amarelos que hoje ameaçam mostrar a sua existência são um efeito secundário do cancro da geringonça. Esse cancro é, desde o primeiro minuto, a luta fratricida entre a força sindical do PCP/CGTP e a nova atuação sindical do Bloco de Esquerda (BE). Este contrapoder ao PS segmenta-se por "grupo de interesse", um a um, sejam professores, maquinistas ou trabalhadores do Estado, colocando em cima da mesa o maior problema da nossa situação: até onde pode ir o nível de impostos para pagar a paz social. E a esquerda custa sempre mais aos contribuintes?.É verdade que o cancro da geringonça estava inscrito no seu ADN desde o primeiro dia mas a deteção do carcinoma só foi mais evidente quando o BE perdeu o seu maior bastião sindical, a Autoeuropa, e a CGTP abalou o país com uma greve pioneira na empresa-símbolo de investimento estrangeiro..O BE, no entanto, não se resume ao ex-líder do sindicato da Autoeuropa, António Chora. Ganhou a RTP, tornou-se mais forte na TAP, e está crescentemente a ocupar o espaço que era apenas dominado pela CGTP procurando simpatizantes nas novas gerações. Por exemplo, foi o BE quem mais estimulou a Autoridade para as Condições de Trabalho a fazer centenas de rusgas em busca de trabalhadores "precários" em empresas - públicas e privadas. Objetivo: acionar os tribunais, principalmente contra o próprio Estado, para integrar essas pessoas. Milhões de euros de custas judiciais e aí estão as sentenças a sair todos os dias com inúmeras derrotas para o Estado..Depois desta guerra dos precários, suceder-se-á uma outra: qual o valor salarial com que estas pessoas entrarão nos quadros das empresas públicas? Um "recibo verde" pode até ganhar mais do que um trabalhador do quadro - está precário, paga impostos por fora, etc. Se os tribunais entenderem, com alta probabilidade, que esse ex-recibo verde deve ficar com o valor contratado anteriormente (em vez de entrar para os escalões mais baixos das categorias profissionais), novo pasto para as chamas sindicais: os trabalhadores do quadro vão exigir promoções para não ficarem abaixo dos novos contratados. Mais greves. Mais "poder sindical". Uma espiral de custos para o Orçamento do Estado. Mais votos para os partidos que lideraram esta batalha..Ora, está muito fresca a memória da troika para isto não fazer alguma impressão. Pode Mário Centeno cativar anualmente custos que mais tarde ou mais cedo vão surgir - mantendo a imprevisibilidade e, por vezes, o caos na gestão dos serviços públicos. Mas ele sabe que este caminho, sem robustíssimo crescimento que não está à vista, é insuportável. A famosa "ditadura das Finanças" não é, muitas vezes, mais do que uma forma desesperada de governar (no verdadeiro sentido da palavra) contra todos em redor, incluindo o próprio governo..Talvez por isso, os "amarelos", independentemente de quem sejam, possam ser úteis para António Costa: eles revelam um outro lado de reivindicações que não têm voz institucionalizada, mas existe e também é justa. Porque dizer não a estes?.Algumas destas pessoas são exatamente aquelas que não têm poder para fazer uma greve "sindicalizada" mas estão fartos de uma vida de trabalho sem proteção nem salários dignos. São o eleitorado que nos espanta na hora de votar e cria o "middle America" que elege Trump ou outro demagogo que prometa cortar cegamente no Estado (e nos impostos). Talvez por isso, os "amarelos" consigam legitimar o primeiro-ministro a ganhar tempo - mesmo contra os seus parceiros de geringonça e até face ao consensualíssimo presidente Marcelo..Os "amarelos" afloraram porque o país fora do "Estado" ou dos sindicatos está perplexo com a facilidade com que no Parlamento se conseguem milhões para grupos de pressão que têm os amigos certos, incluindo um PS que joga contra Centeno quando dá jeito. Se, afinal, os impostos já podem descer - até para esse produto de primeira necessidade chamado tauromaquia - é porque há dinheiro. E, se há, todos querem mais. Até ao dia em que os cortes cegos regressam e volta tudo ao princípio (mais impostos, mais impostos, mais impostos...).
Os Amarelos que hoje ameaçam mostrar a sua existência são um efeito secundário do cancro da geringonça. Esse cancro é, desde o primeiro minuto, a luta fratricida entre a força sindical do PCP/CGTP e a nova atuação sindical do Bloco de Esquerda (BE). Este contrapoder ao PS segmenta-se por "grupo de interesse", um a um, sejam professores, maquinistas ou trabalhadores do Estado, colocando em cima da mesa o maior problema da nossa situação: até onde pode ir o nível de impostos para pagar a paz social. E a esquerda custa sempre mais aos contribuintes?.É verdade que o cancro da geringonça estava inscrito no seu ADN desde o primeiro dia mas a deteção do carcinoma só foi mais evidente quando o BE perdeu o seu maior bastião sindical, a Autoeuropa, e a CGTP abalou o país com uma greve pioneira na empresa-símbolo de investimento estrangeiro..O BE, no entanto, não se resume ao ex-líder do sindicato da Autoeuropa, António Chora. Ganhou a RTP, tornou-se mais forte na TAP, e está crescentemente a ocupar o espaço que era apenas dominado pela CGTP procurando simpatizantes nas novas gerações. Por exemplo, foi o BE quem mais estimulou a Autoridade para as Condições de Trabalho a fazer centenas de rusgas em busca de trabalhadores "precários" em empresas - públicas e privadas. Objetivo: acionar os tribunais, principalmente contra o próprio Estado, para integrar essas pessoas. Milhões de euros de custas judiciais e aí estão as sentenças a sair todos os dias com inúmeras derrotas para o Estado..Depois desta guerra dos precários, suceder-se-á uma outra: qual o valor salarial com que estas pessoas entrarão nos quadros das empresas públicas? Um "recibo verde" pode até ganhar mais do que um trabalhador do quadro - está precário, paga impostos por fora, etc. Se os tribunais entenderem, com alta probabilidade, que esse ex-recibo verde deve ficar com o valor contratado anteriormente (em vez de entrar para os escalões mais baixos das categorias profissionais), novo pasto para as chamas sindicais: os trabalhadores do quadro vão exigir promoções para não ficarem abaixo dos novos contratados. Mais greves. Mais "poder sindical". Uma espiral de custos para o Orçamento do Estado. Mais votos para os partidos que lideraram esta batalha..Ora, está muito fresca a memória da troika para isto não fazer alguma impressão. Pode Mário Centeno cativar anualmente custos que mais tarde ou mais cedo vão surgir - mantendo a imprevisibilidade e, por vezes, o caos na gestão dos serviços públicos. Mas ele sabe que este caminho, sem robustíssimo crescimento que não está à vista, é insuportável. A famosa "ditadura das Finanças" não é, muitas vezes, mais do que uma forma desesperada de governar (no verdadeiro sentido da palavra) contra todos em redor, incluindo o próprio governo..Talvez por isso, os "amarelos", independentemente de quem sejam, possam ser úteis para António Costa: eles revelam um outro lado de reivindicações que não têm voz institucionalizada, mas existe e também é justa. Porque dizer não a estes?.Algumas destas pessoas são exatamente aquelas que não têm poder para fazer uma greve "sindicalizada" mas estão fartos de uma vida de trabalho sem proteção nem salários dignos. São o eleitorado que nos espanta na hora de votar e cria o "middle America" que elege Trump ou outro demagogo que prometa cortar cegamente no Estado (e nos impostos). Talvez por isso, os "amarelos" consigam legitimar o primeiro-ministro a ganhar tempo - mesmo contra os seus parceiros de geringonça e até face ao consensualíssimo presidente Marcelo..Os "amarelos" afloraram porque o país fora do "Estado" ou dos sindicatos está perplexo com a facilidade com que no Parlamento se conseguem milhões para grupos de pressão que têm os amigos certos, incluindo um PS que joga contra Centeno quando dá jeito. Se, afinal, os impostos já podem descer - até para esse produto de primeira necessidade chamado tauromaquia - é porque há dinheiro. E, se há, todos querem mais. Até ao dia em que os cortes cegos regressam e volta tudo ao princípio (mais impostos, mais impostos, mais impostos...).