A frente fria
Vamos por partes. Primeiro, a afetiva. Lembro-me de Teresa Abrantes quase desde sempre. Houve um tempo em que O Tempo (lembram-se das Quatro Estações, de Vivaldi?) me fascinava. Ficava preso àqueles cinco minutos em que alguém com um ponteiro explicava o "anticiclone dos Açores", ou "a massa de ar quente" e nos anunciava o "céu pouco nublado ou limpo", o "vento fraco a moderado do quadrante noroeste" e o "acentuado arrefecimento noturno". O Anthímio de Azevedo, o Costa Alves, a Teresa Abrantes. Cresci com eles, crescemos com eles. Desse ponto de vista, fico triste com o fim da informação meteorológica apresentada por um meteorologista. E sou sensível ao argumento utilizado pela própria Teresa, quarta-feira no final da sua última participação no Bom Dia Portugal, de que este País será "dos únicos, ou mesmo o único", a não ter um meteorologista a apresentar o tempo.
Agora, a parte racional. Preocupava-me mais se o "boletim meteorológico" passasse a ser uma coisa tipo horóscopo de revistas: cada um faz o seu e a gente ri-se no final. Não sei porque é que a RTP decidiu terminar a sua colaboração com o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera). Nem sei tão pouco quanto custava aquele serviço à televisão pública. Sei que a RTP já garantiu que a sua informação meteorológica vai continuar a ser assegurada com o rigor e credibilidade do IPMA. Isso para mim é o que conta. Se vão tirar de lá a Teresa Abrantes e apostar numa voz off ou até pôr uma boneca insuflável, até posso ficar triste, mas racionalmente não tenho nada a obstar. Também os tipógrafos e as locutoras de continuidade desapareceram de cena e os jornais e a TV continuam a fazer-se...