A força da educação

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Muitas são as vozes que se têm ouvido em defesa de interesses básicos e mundanos, mas que na "lufa-lufa" do dia-a-dia passam ao lado.

Na semana passada tive a oportunidade de participar no 32º Encontro Anual da Associação Europeia de Educação Internacional. Após várias tentativas (devido à pandemia), o evento finalmente aconteceu em Barcelona. A sessão de abertura esteve a cargo da conhecida jornalista de origem afegã, Yalda Hakim.

Há uma realidade cruel neste compasso de regresso às aulas: muitas crianças ainda não podem frequentar a escola. Para além das situações de pobreza conhecidas, mais de um ano passou em que professoras e alunas estão impedidas de beneficiar do ensino escolar. Esta triste realidade retrata o Afeganistão.

É um facto que o clima que se vivia em Cabul antes da partida das tropas Americanas era muito mais inseguro. Mas no pós retirada a maior parte das mulheres foi novamente sonegada e impedida de aceder aos direitos mais básicos, como o ensino ou o trabalho. Não "poder ser nada" implica um colossal retrocesso civilizacional e este contexto todos deve envergonhar, enquanto comunidade global.

Devido às atrocidades referidas, há atualmente escolas secretas onde meninas e mulheres arriscam a vida em prol da educação. Curiosamente, este tema não tem estado nas vozes dos principais agentes políticos internacionais. Por isso mesmo, estas mulheres e meninas sentem-se abandonadas e atraiçoadas porque ainda há um ano faziam parte da sociedade afegã.

Infelizmente, o caso não é único. O conflito na Ucrânia tem despoletado efeitos semelhantes. Nas guerras e nas crises quem "desaparece" primeiro são as mulheres, as crianças e com elas a educação. Por crianças, entenda-se, sobretudo, meninas. Esta privação significa ceifar talvez a única oportunidade para saírem da miséria em que vivem.

Assim, impõe-se uma questão: qual é o papel da comunidade internacional? São cerca de 220 milhões as crianças a viver em privação de um dos bens mais importantes do mundo. Esse bem, a educação, é dos únicos garantes para igualar oportunidades e levar esperança aos mais desfavorecidos.

Nos dois países referidos, luta-se pela educação porque a mesma não é um dado adquirido. Os alertas podem e devem ser feitos por ativistas, jornalistas, políticos e por todos e cada um de nós.

No mundo ocidentalizado, onde a inflação parece ocupar hoje o lugar cimeiro das preocupações, deve questionar-se: será possível alterar os standards educacionais para que estes jovens possam integrar as nossas instituições?

A inépcia face a este assunto é igual a não lutar pela democracia. Seja qual for a resposta, há uma certeza: o contributo de todos é fácil, basta gerar interesse e falar do assunto. Não é necessário ir para a guerra ou fazer caridade.

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