A filosofia está em todo o lado
Doutorado em Filosofia pela Universidade Paris 4 Sorbonne, Óscar Brenifier publicou diversas obras, entre as quais uma coleção de livros de filosofia para crianças, editada em mais de trinta países (em Portugal, pela Dinalivro). É um dos autores do relatório Filosofia, Uma Escola da Liberdade, editado pela UNESCO em 2007. Em Paris, fundou o Instituto de Práticas Filosóficas, destinado à promoção e à formação da filosofia como prática.
Hoje, o papel dos filósofos passa também por trabalhar com crianças, por fazer consultas filosóficas ou dar formação em ambiente empresarial. Tudo isto é possível com a filosofia prática?
Não sei se é possível, mas é isto que eu faço. Se aquilo que fazemos é ou não uma prova do que é possível... não sei. Mas em todo o caso faço-o. De qualquer maneira, não estou a ver o que possa ser surpreendente. A partir do momento em que se considera que a filosofia é uma reflexão que se implica a si própria, por que motivo não poderá fazer-se em meios diferentes, em contextos diferentes e em idades diferentes? A surpresa deve-se talvez ao facto de a filosofia ter sido muito formalizada. Aliás, um grande número de filósofos académicos não apreciam este género de exercício. Não é muito bem visto.
Porquê?
É visto como uma espécie de banalização ou dessacralização da filosofia. O próprio facto de se tentar desimplicar a filosofia de uma conceção erudita não é bem visto. Por uma questão de dogmatismo, de poder, de statu quo. Depois, há uma conceção da filosofia que é determinada em função de um contexto cultural dado: é a perspetiva ocidental moderna dos últimos dois ou três séculos.
Refere-se a uma filosofia mais ligada ao mundo do que à universidade?
A universidade faz parte do mundo. Não se pode excluí-la. Eu vou a universidades para
tentar despertar o interesse, nomeadamente dos filósofos, para esta prática filosófica, mas a ideia é mesmo alargar o campo de atuação da filosofia e o número de interlocutores.
Em que consiste essa prática filosófica?
Como o nome indica, trata-se de levar a cabo uma prática, à maneira dos clássicos, em particular de Sócrates, para quem a filosofia era um modo de vida e não uma mera atividade académica ou uma atividade de conhecimento. Há uma implicação da existência.
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