A FIFA VAI NUA

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Está por horas. Com a edição de Julho da Playboy, a brasileira Ana Paula Oliveira estará no índex da FIFA, expulsa da arbitragem, como Eva do Paraíso. O castigo parece irreversível, a mão do banimento aponta para ela. O crime de Ana Paula foi aceitar o desafio da Playboy para uma série de nus artísticos. Nada de muito diferente do que fizeram, há tempos, grandes vedetas do futebol italiano, como Del Piero, que enfrentaram sem roupa a fotógrafa Elisabetta Catalano para um calendário de uma Associação de Investigação contra o Cancro. Mas Ana Paula, árbitra de elite da FIFA desde 2004, não pode puxar, em sua defesa, a parra de uma "causa nobre". E, por isso, a nudez dela será castigada, ainda que não tenha lançado ao chão do estúdio o equipamento cor-de-rosa com que apitou, no fim-de-semana, um jogo no interior de São Paulo. Afinal a árbitra brasileira despiu-se em nome de uma campanha mais genérica, a da liberdade de "medir o próprio pudor", como sintetizou exemplarmente Paulo César Carpegiani, o treinador do Corinthians. O dinheiro que a revista lhe pagou não é mais "sujo" que o de qualquer campanha comercial em que um atleta famoso "dá" a cara ou outra qualquer parte mais ou menos velada do corpo. Vendo bem, é a FIFA que vai nua e a hipocrisia segue o seu curso em várias instâncias da polícia de costumes desportiva.

Ana Paula será em princípio vetada pela CBF na próxima eleição de árbitros, de modo a que a lista esteja limpa de pecado na reunião da FIFA, em fins de Outubro, em Zurique. É claro que os jornais deixam perceber o quanto a decisão pode desassossegar Pandora. As notícias sugerem que "a CBF ainda vai discutir o caso", mas Ana Paula Oliveira está já afastada das séries principais. Globo Esporte escancarou há dias um título tremendo: "Conaf não sabe se punirá peladona." Palavra feia, esta, tão longínqua da ideia de "pelado" que remete para a primitiva verdade nua e crua do futebol.

"Ana Paula, casa com eu!"

Ana Paula, "vestida de nudez" como se corresse dentro do poema do Drummond, apitou, há dias, um jogo no interior de São Paulo. Foi uma festa, lá em Ribeirão Preto. A árbitra vetada nos grandes estádios foi fotografada com os jogadores e deu autógrafos ao público. Nas bancadas, havia um cartaz que dizia: "Ana Paula, casa com eu." É um pontapé na gramática, mas não rasteira a liberdade criativa. Ana Paula terá sabido mostrar ao pretendente um amarelo pedagógico, ou deixou seguir a jogada, não beneficiando o infractor. Quero dizer: não beneficiando os polícias de costumes da Conaf ou da CBF.

A palavra precisa

Há dias, o grande Armando Nogueira, um veterano com seis décadas de jornalismo e 15 campeonatos do mundo, interpelou Dunga, porque o seleccionador ficou mais nu de gramática do que Ana Paula de benevolência fifeira. No blog do Globoonline, Nogueira escreve que "Dunga precisa, com urgência, de melhorar de português". E, rematando à figura: "Com nós, uma ova, professor! É connosco, mesmo, que o senhor está falando." Dunga está tão nu de verbo como um Adão banido pela FIFA. Como se entrasse noutro poema de Drummond, buscando " a nudez da palavra precisa". *TSF

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