A Festa do Cinema Francês vai continuar a ser um "affaire" de luxo

A 17.ª edição arranca hoje com "Cézanne e Eu", a história da amizade entre Zola e o pintor Cézanne realizada por Daniéle Thompson.
Publicado a
Atualizado a

Ao longo de 17 anos a Festa do Cinema Francês não baixou a sua popularidade e tem ajudado a que o cinema francês encontre cada vez mais um espaço assíduo no nosso mercado. Uma mostra de cinema que é um dos grandes casos de sucesso de público da rentrée, sobretudo em Lisboa, onde o cinema São Jorge costuma esgotar.

Nesta edição 2016, apadrinhada pela cineasta Anne Fontaine (que mostrará em antestreia o último filme As Inocentes), destaca-se a forte qualidade da seleção que soube operar dois triunfos: um exemplo de diversidade de géneros e propostas e um leque de novidades que vão dar ao espectador oportunidade para ver em primeira mão alguns dos títulos franceses mais entusiasmantes da temporada.

Lisboa dá hoje o pontapé de saída mas a Festa depois circula por todo o país com paragens em Almada, Porto, Leiria, Setúbal, Beja, Aveiro, Seixal, Faro, Coimbra e Viana do Castelo. Além da presença de Anne Fontaine, entre os convidados destacam-se Sébastian Betber e Cantona (realizador e ator de Marie et les Naufragés, um dos mais esperados da mostra), bem como Daniéle Thompson, realizadora de Cézanne e Eu, o filme de abertura. Uma celebração da francofonia que inclui ainda encontros, concerto e masterclasses. Apenas de se estranhar o desinteresse de algumas distribuidoras portuguesas, sobretudo aquelas que costumam distribuir filmes franceses.

Sobre a ausência de grandes celebridades, Aurélie Roguin, a responsável pelo evento, tem uma explicação: "A verdade é que não é fácil conseguir trazer atores porque na maior parte do tempo não se encontram disponíveis. Eles já recebem um número de convites gigante e gastam parte do seu tempo a assegurar a promoção dos seus filmes em diversos países. E aí o que conta são as prioridades de cada mercado. Portugal e esta festa não são um grande mercado onde se compram os filmes, apenas um festival para os cinéfilos. Há também que conseguir juntar as nossas forças com a embaixada, distribuidor e a Unifrance [que promove internacionalmente o cinema francês]. Mas, mesmo assim, não é tão fácil."

Em primeira mão, esta festa vai apresentar o muito esperado La Loi de la Jungle, de Antonin Peretjatko, um dos atuais cineastas franceses com estatuto de iconoclasta. Destaque ainda para Victoria, de Justine Triet, com Vincent Lascoste, um dos sucessos de 2016 das bilheteiras francesas, e a comédia Des Nouvelles de la Planète Mars, de Dominik Moll, uma das sensações da última Berlinale e que contagia com um humor insano assinalável.

Nenhum destes filmes está adquirido para Portugal, ou seja, a Festa serve para uma oportunidade única do público português ver algum deste novo cinema. A questão que se coloca é se ainda poderá crescer mais. Roguin não sente essa necessidade: "Não há uma vontade de atingir um número específico maior de filmes ou de cidades só para crescer. A vontade será mais desenvolver ações paralelas, por exemplo um trabalho com as escolas de cinema, um lado mais pedagógico e um espaço para encontros. Por isso, neste ano, a Festa propõe um ciclo em parceria com ACID (uma associação francesa de cinema independente), que apresenta uma seleção de filmes apresentados no Festival de Cannes em 2016."

Acontecimento marcante nesta Festa é ainda o cinema de animação, não só por uma seleção de filmes do Festival de Annecy, mas também pela primeira exibição em Portugal de La Tortue Rouge, para muitos um dos favoritos ao Óscar.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt