A febre dos aviões fez o Douro voltar a transbordar de gente

250 mil pessoas juntaram-se para ver o primeiro dia de competição. Ex-top gun "é o cérebro e o coração da corrida"
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Oito anos depois, a febre dos aviões regressou às margens do Douro e as zonas ribeirinhas de Porto e Gaia voltaram a transbordar com milhares de espectadores - tal como aconteceu nas edições de 2007, 2008 e 2009.

A Red Bull Air Race é uma fórmula de sucesso que atrai entusiastas desde a primeira hora e curiosos de ocasião. Ontem, sábado, foram, segundo a organização, 250 mil pessoas (um recorde num só dia de prova) a assistir ao vivo às qualificações da Master, categoria principal, e da recente Challenger Class na sexta de oito etapas do campeonato mundial, o que perspetiva para este domingo, dia das corridas, uma enchente maior - o INEM assistiu ontem 79 pessoas.

"Estão mais pessoas hoje [ontem] no Porto a assistir à prova do que nos dois dias em algumas das anteriores etapas, o que é muito bom prenúncio", garantiu a organização da prova. O recorde de assistência no Porto é de um milhão de espectadores, em 2008, numa edição em que no primeiro dia acorreram às duas margens 200 mil pessoas, abaixo do número anunciado pela organização.

Junto à Alfândega do Porto, num dos muitos pontos com boa visibilidade e acesso livre, portanto muito concorrido, o casal Pablo Peroso e Maria Isabel Pestana, emigrantes que vieram da Venezuela e há um ano escolheram Aveiro para viver, abriam a boca de espanto.

"Nunca estive num evento igual. Na Venezuela não existe nada parecido. Antes de vir espreitei alguns vídeos na internet, mas aqui ao vivo é incrível... Muito melhor! Sentimos o som, toda a adrenalina... Ainda estávamos no comboio e já ouvíamos os aviões ao fundo. A emoção começou logo aí", diz ao DN Pablo, que se destaca entre a multidão por levar às costas uma enorme bandeira venezuelana, enquanto a esposa Maria, lusodescendente, acrescenta: "Ver estes aviões modernos e toda esta paisagem envolvente é o mais bonito."

Bem mais acostumado ao espetáculo, como se percebe pelo equipamento fotográfico, empunhando duas máquinas com enormes objetivas, está Paulo Silva. Este bancário de Lisboa, que vive há sete anos no Porto, veio com o amigo Manuel Pereira e o filho deste, Daniel, que também já é um entusiasta das fotos. Apanhar um bom plano é o que conta e o dia soalheiro está bom para isso.

"Preferia estar do lado de Gaia, porque apanharia o Porto como pano de fundo, mas não é fácil agora passar para a outra margem com toda esta multidão e os cortes de trânsito. Mesmo assim, já tirei boas fotografias. Quando terminar o evento vou andar um ano inteiro a selecionar fotos, fazer um álbum... Há pormenores fantásticos, não é só os aviões, mas toda esta organização e logística, o ambiente e a envolvência", conta Paulo, enquanto o amigo Manuel salienta a diferença para edições anteriores: "Nota-se agora uma preocupação muito maior com a segurança e uma presença muito reforçada da polícia. Em termos de enchente, continua a ser muita, muita gente. E amanhã, domingo, a multidão será certamente ainda maior."

Ex-top gun no cérebro

Bem perto deste setor do público funciona a torre de controlo, o "cérebro e o coração da corrida", como diz Jim DiMatteo, o diretor da corrida. Ele é o responsável por dizer "Smoke on", dar a ordem para os aviões avançarem.

"Temos mais de 400 pessoas lá fora a fazerem o seu trabalho, mas tudo volta aqui, que é onde são tomadas todas as decisões de corrida e da transmissão televisiva para 140 países", diz Jim, que nos seus tempos de juventude foi um verdadeiro top gun, ou seja, piloto de caças da marinha norte--americana.

Agora, é ele que comanda a corrida aérea mais entusiasmante e popular do mundo e nada pode falhar. Em particular a segurança, que pode ser colocada em risco por uma gaivota, por exemplo, embora sejam tomadas precauções: "Antes de cada corrida o helicóptero passa sobre o rio para que o barulho afaste os pássaros. Só precisamos do trajeto livre durante umas horas. Depois os pássaros podem voltar", diz DiMatteo, que esteve em edições anteriores da Red Bull no Porto e não encontra grandes diferenças para esta versão, oito anos depois: "O entusiasmo de centenas de milhares de pessoas é enorme e a "pista" é semelhante, até porque não temos grandes opções. Em comparação com outras etapas, em que podemos fazer traçados mais circulares, no Porto o percurso é mais rápido e não tão técnico, porque o rio é estreito. Mas não é fácil para os pilotos: se forem demasiado velozes podem ser penalizados, se forem mais lentos o adversário ganha. Tudo se decide nos pormenores."

Independentemente das particularidades do trajeto, o diretor da corrida considera que a etapa portuguesa tem uma das mais belas localizações do mundo: "O Porto é, juntamente com Budapeste, a minha etapa preferida. Sabem porquê? Olhem, por exemplo, para aquele edifício [aponta para uma cave de vinho do Porto, do lado de Gaia]... É mais antigo do que o meu país! É este contraste entre uma corrida de aviões, todo este público e a arquitetura antiga que torna o Porto tão especial."

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