A favor de Bolsonaro: vencedor da primeira volta foi sempre presidente

Desde que voltou a haver diretas no Brasil, em 1989, o candidato mais votado na primeira volta chegou sempre a presidente, vencendo na segunda volta ou, no caso de Fernando Henrique Cardoso, sendo logo eleito.
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Com 46% dos votos na primeira volta ontem realizada, Jair Bolsonaro tem boas hipóteses de ser eleito presidente, até porque a tradição joga a seu favor: desde o regresso das presidenciais diretas ao Brasil em 1989, o vencedor da primeira volta foi sempre o vencedor final. No caso de Fernando Collor de Mello, em 1989, de Lula da Silva, em 2002 e 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, um triunfo alargado na segunda votação confirmou a vitória na primeira. Já Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, conseguiu ser logo eleito presidente no primeiro turno, como dizem os brasileiros.

A favor de Fernando Haddad joga uma outra tradição, mais óbvia: o candidato do Partido dos Trabalhadores, quando conseguiu chegar à segunda volta, melhorou sempre o resultado anterior. Aconteceu nas duas vitórias de Lula (e numa das derrotas) e também nas duas de Dilma. Aliás, o único caso em que um candidato chegou à segunda volta e perdeu apoios em relação à primeira deu-se em 2006, quando Geraldo Alckmin, enfrentado Lula, baixou tanto em percentagem como em votos. Alckmin foi agora de novo candidato, em 2018, mas com um resultado bem abaixo dos 10%.

Tirando Collor de Mello, oriundo do campo liberal, todos os grandes embates foram desde 1989 entre candidatos do Partido da Social Democracia Brasileira e do PT, embora com aliados diversos, nem sempre lógicos do ponto de vista ideológico. Em 1989, Collor obteve 30,5% na primeira volta contra 17,2% de Lula, mas na segunda o resultado foi de 53% contra 47%. O mais jovem presidente da história do Brasil não chegaria, porém, ao fim do mandato, por causa de acusações de corrupção, e cederia o lugar ao vice, Itamar Franco.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso, que fora ministro das Finanças de Itamar, venceu logo à primeira, com 54,2%. Lula, que se candidatava pela segunda vez, ficou-se pelos 27,1%, com o seu rival a beneficiar do prestígio de ter delineado o Plano Real, que permitiu controlar a hiperinflação. Fernando Henrique Cardoso repetiu a vitória sobre o antigo metalúrgico em 1998, desta vez com 53% dos votos e Lula com 31%. Nessas eleições, Ciro Gomes foi o terceiro mais votado, tal como ontem.

Lula da Silva chegou à presidência à quarta tentativa, mas necessitou de uma segunda volta em 2002 com José Serra. Depois de terem-se ficado pelos 46,5% contra os 23,2% na primeira volta, o duelo final deu 61,3% para Lula, o resultado mais alto até agora de um presidente brasileiro pós-ditadura militar. Em 2006, o presidente quase conseguia a reeleição à primeira volta, com 48,5% contra 41,6 de Alckmin e na segunda volta obteve 60,8%.

Dilma Rousseff, delfim de Lula, ganhou em 2010 a primeira volta com 46,9%, seguida de Serra, do PSDB, que na sua segunda tentativa obteve 32,6%. Na ronda decisiva, Dilma recebeu o apoio de 56,1% dos votantes. A primeira mulher presidente do Brasil foi depois reeleita em 2014, numa eleição disputadíssima com Aécio Neves: na primeira volta o resultado foi 41,6% contra 33,6%, mas na segunda os números foram bem mais renhidos: 51,6% contra 48,4%. Dilma seria destituída dois anos depois, com o seu vice, Michael Temer, a assumir a presidência.

No duelo final dia 28 de outubro entre Bolsonaro, candidato de extrema-direita, e Haddad, candidato do PT porque Lula, preso por corrupção não pode concorrer, a habitual divisão entre direita e esquerda pode não se concretizar como tradicionalmente, devido à forte taxa de rejeição de ambos os candidatos. Ciro Gomes, o terceiro mais votado, tem dado sempre a entender o apoio a Haddad, mas não chega.

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