Há uma questão que por vezes acompanha as comédias sobre o drama da adolescência: qual o público-alvo? Dito de outra maneira: quando um adulto começa a ver Nem Penses que te Vou Convidar para o Meu Bat Mitzvah, o único motivo para continuar após os primeiros minutos é ter ao lado um(a) adolescente... O filme de Sammi Cohen, nova sensação da Netflix, diz logo ao que vem com a sua introdução didática, de tom marcadamente juvenil, sobre os diferentes rituais que à volta do globo celebram a maioridade. Porquê o preâmbulo? Porque é um desses rituais, o "Bat Mitzva" (para os rapazes, "Bar Mitzva"), que ocupa o centro temático desta história de uma jovem judia que se prepara para a ocasião solene. Trata-se, afinal, da cerimónia mais importante na vida de um judeu, a assinalar o momento em que, do ponto de vista religioso, se torna responsável pelos seus atos..Esta específica dimensão religiosa, raramente representada de forma aberta no quadro da comédia, é parte da curiosidade do filme, uma vez que dá acesso a algo da experiência do ensino judaico. Porém, não é bem isso que interessa aqui. Tal como a sua jovem protagonista, Nem Penses que te Vou Convidar para o Meu Bat Mitzvah está mais preocupado com a fase da festa que vem a seguir ao ritual litúrgico - seja uma menina que fala com Deus ou que ignora a sua existência, em causa estão os disparates e mágoas próprios da idade..Nesse aspeto, o filme de Sammi Cohen limita-se a trazer a enésima variação do retrato das melhores amigas que se zangam por causa do rapaz mais giro (e oco) da escola. Uma lição que tem de ser aprendida e que prova como essa ferida normal da adolescência tem tudo para ser rapidamente ultrapassada. Girls have to stick together!.Enfim, por mais voltas que se dê, a verdadeira razão pela qual Nem Penses que te Vou Convidar para o Meu Bat Mitzvah tem merecido uma atenção particular é esta: a atriz que abraça aqui as dores dos 13 anos chama-se Sunny Sandler, é filha de Adam Sandler, e o pai interpreta... o pai. Se a isto juntarmos o facto de Sadie Sandler, a filha mais velha, também assumir esse papel, e de a mulher, Jackie Sandler, fazer de mãe da melhor amiga da protagonista, temos o verdadeiro "filme em família", com o seu quê de autopromoção (até porque o papá é o produtor)..Seria injusto não reconhecer que as filhotas de Sandler têm a sua costela para a comédia, e mesmo um potencial dramático - quando o filme consegue atingir uma nota mais cruel, sente-se a segurança com que Sunny aguenta o tom. Mas há uma insistência no registo do humor adolescente, com uma câmara cúmplice do mundo dos TikToks, que sinaliza constantemente uma visão desleixada e formulaica sobre os sentimentos que se pretendem captar. Há, com certeza, o mínimo de sensibilidade para agarrar um instante de doçura ou uma dor mais afiada. Mas isso não garante nenhum rasgo a um objeto claramente confortável na sua condição de simpático diário de adolescente. De resto, já lá vai a ousadia do pai Sandler em Diamante Bruto, dos irmãos Safdie. Voltou à rotina.