A ex-primeira dama versus o socialista
Não é só o facto de ambos serem filhos de uma Dorothy que une Hillary Clinton e Bernie Sanders. Ambos começaram a interessar-se por política em Chicago. Ela ainda no liceu, quando a guerra do Vietname a levou a questionar os ideais do pai e dos Jovens Republicanos a que chegou a pertencer. Ele já na universidade, quando se juntou à Juventude do Partido Socialista da América e começou a militar no movimento pelos direitos cívicos dos negros e contra a guerra.
Com carreiras muito diferentes, Hillary e Sanders disputam agora a nomeação democrata para as presidenciais de novembro nos EUA. E se a ex-primeira dama partiu como hiperfavorita, a verdade é que o empate que Sanders conseguiu no Iowa conseguiu transformar o que parecia um sprint numa longa maratona até à convenção de julho.
Aluna brilhante que em criança quis ser astronauta (a resposta da NASA a explicar que não aceitava mulheres deixou-a indignada), Hillary preparava-se para ser uma advogada de sucesso. Mas tudo mudou na sua vida no dia em que conheceu Bill Clinton na biblioteca da universidade de Yale. Casaram em 1975, já no Arkansas, onde Bill começou a carreira que o levaria a governador daquele estado e, em 1993, à Casa Branca. Durante esses anos, Hillary dedicou-se ao papel de primeira dama, sem nunca esquecer as suas lutas de eleição: pelas crianças e pelas mulheres.
Enquanto Hillary se afirmava junto dos americanos, Sanders, nascido em Nova Iorque em 1941, mudava-se para o Vermont, onde tentava candidaturas a governador e ao Senado pelo partido anti-guerra Liberty Union. Em 1980 foi eleito mayor de Burlington e dez anos depois, o Washington Post noticiava a sua entrada para o Congresso como a primeira de um socialista. Em 2007 chegava ao Senado, onde, apesar de independente, votou ao lado dos democratas.
Casado em segundas núpcias com Jane O"Meara desde 1988, Sanders tem um filho de um relacionamento anterior. Avô de sete netos (tem três enteados), o autodenominado socialista democrata surpreendeu todos quando anunciou a candidatura presidencial em abril do ano passado. Pouco conhecido a nível nacional, este homem de voz potente e mensagem antissistema deixou os analistas céticos quanto às suas hipóteses face a Hillary Clinton.
Mas a verdade é que os ataques a Wall Street e aos privilégios dos mais ricos parecem ter encontrado eco junto dos mais jovens e da ala esquerda do partido. Os milhares que encheram os seus comícios foram apenas o prenúncio para a sua curtíssima derrota (por 0,2% dos votos) face a Hillary no Iowa.
Primeira dama, senadorA, secretária de Estado, ninguém duvida que Hillary tem a experiência para chegar à presidência. Mas os ataques a Sanders sobre a sua posição dúbia em relação às armas apenas lhe valeram uma vitória mínima. E não afastam de todo um cenário semelhante ao de 2008, quando Hillary perdeu a nomeação para um pouco conhecido Barack Obama. Sobretudo se Sanders vencer no New Hampshire.