A Europa na luta contra o Racismo

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A Europa está, com o seu atraso na luta contra o discriminação étnico-racial, a posicionar-se como o Continente mais racista do planeta. Os valores europeus estão hoje longe de serem universais e, pelo contrário, suscitam fortes reações adversas em muitas geografias.

A Espanha celebrou recentemente as suas "descobertas", a "hispanidade" e a conquista das Américas no Dia de Colombo. As reações por toda a América foram mescladas de rejeição e de muitas críticas. É que não se descobre um continente já habitado por milhões de pessoas, foram outros que a descobriram e lá se instalaram. E os conquistadores europeus não trouxeram a civilização como clamam os espanhóis, mas o genocídio dos povos autóctones e a apropriação das suas terras e recursos. As grandes civilizações Maia, Inca, etc. foram destruídas. A reação às celebrações da chegada de Colombo ficaram naturalmente marcadas por protestos e dissidências.

Nos Estados Unidos o presidente Joe Biden foi ao ponto de aprovar que nesse dia também se assinale o Dia dos Povos Indígenas, as grandes vítimas da ocupação europeia. A Igreja Católica pediu desculpas publicamente pela sua participação nessa conquista e ocupação. O México exigiu desculpas públicas à Espanha. Cuba e Venezuela apelidaram Aznar de racista e pediram desculpas oficiais quando este político espanhol atacou o presidente do México. Como ação diplomática o Dia de Colombo, preparado meticulosamente e que a Espanha queria um triunfo para a sua política externa foi um desastre. Ficou o travo do racismo como marca europeia.

Na Roménia a recente visita do Papa Francisco veio por a nu a política de segregação racial em larga escala de que os Ciganos são vítimas. Em França, na Hungria, na Roménia um pouco por todo o lado na Europa a discriminação étnico-racial afasta os europeus dos ideais universais da igualdade entre os seres humanos. Simultaneamente a Europa prefere seguir a liderança francesa de exaltar os feitos coloniais, recusar-se a reparar os crimes cometidos no passado, negar o racismo e promover a discriminação - proliferação de guetos racializados, proibição de uso de véus, etc. - do que se filiar na alternativa anglo-saxónica de reconhecer os problemas e, mal ou bem, tentar resolvê-los.

Esta atitude isola a Europa de outros continentes e cria as bases para uma menor diversidade cultural e étnica que são fatores explicativos do declínio europeu, da sua longa estagnação e do aumento das desigualdades nas sociedades europeias.

Do ponto de vista geopolítico e geoeconómico o racismo está a criar dificuldades de entendimento, de negociação e de incremento das relações económicas com outros povos. Um obstáculo ao desenvolvimento num mundo cada vez mais globalizado.

Obviamente que existem exceções, bons exemplos na luta pela igualdade, pela inclusão multicultural e boas propostas para enfrentar o problema. Recentemente Fabien Roussel, um político francês, propôs que as pessoas condenadas por racismo não pudessem ser eleitas para cargos políticos. Uma excelente proposta que afastaria muitos políticos racistas incluindo eventualmente até em Portugal. A Alemanha tem várias políticas positivas de acolhimento de imigrantes. As políticas de desnazificação e de reparação das vítimas são também um exemplo histórico que pode ser atualizado. Um pouco por todo o lado existem múltiplas associações e coletivos antirracistas. É preciso transformar toda esta energia democrática em políticas concretas para que a Europa não se transforme definitivamente no continente racista do mundo.

Portugal também tem um grande caminho a percorrer. A recente morte inexplicada do jovem Danijoy Pontes aos 23 anos, questiona-nos sobre a forma como os Negros são tratados no nosso país e clama por esclarecimentos cabais e justiça

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