A Europa dos pândegos
O primeiro-ministro demitiu-se, o líder da oposição é um fantasma político, a City está em choque e a libra caiu a pique. O receio rodeia os imigrantes, a Escócia acenou com novo referendo e da Irlanda do Norte virá mais tensão institucional. No mais, o Reino Unido entregou-se aos vencedores, dois pândegos irresponsáveis que dedicaram mais anos das suas vidas ao bate-boca do que alguma vez ao caminho a percorrer depois do brexit. De resto, os remainers fizeram uma campanha sem convicção, o europeísmo de Cameron é postiço e Corbyn não existiu. Aliás, um dos responsáveis pelo resultado é o Labour, cuja posição envergonhada desmotivou eleitores em regiões inglesas fundamentais. Não surpreende que muitos peçam já a cabeça do velho Jeremy. Este resultado é, a curto prazo, muito mais grave e prejudicial ao Reino Unido do que à UE, porque não tem um governo credível, forte e legitimado para negociar um acordo vantajoso com Bruxelas. Como já se percebeu, Comissão e Conselho não vão ser meigos, o que antecipa mais lama na ventoinha em paralelo aos difíceis ciclos eleitorais em Madrid, Washington, Paris e Berlim. A única inversão à vista seria o brexit ser tema central em legislativas antecipadas no Reino Unido e os partidos que o renegam vencerem categoricamente, esvaziando o sentido do referendo. Num cenário desses que diriam os líderes da UE? Não os queremos de volta? O que teria mais peso, o referendo ou a maioria em Westminster? E que líderes partidários travariam esse debate? Qual o impacto económico interno da gestão provisória de Cameron e que danos provocaria na Irlanda, França, Alemanha e Holanda, as economias mais expostas à britânica? Que brechas teria isto na cooperação antiterrorista entre Londres e outras capitais europeias? Estamos no domínio da total incerteza e entregues a aventureiros. 2016 é mesmo o ano mais importante da Europa depois de 1989.