A Europa deve ponderar resposta às ameaças tarifárias dos EUA
Como deve a UE reagir se Donald Trump, o presidente dos EUA, impuser uma taxa de 20% ou 25% sobre os carros importados da Europa? Eu não costumo alinhar com os alemães em questões económicas, mas neste ponto específico acho que eles estão certos. A UE deve avançar com cuidado.
A ideia de a UE se preparar para um contra-ataque tem um certo toque de absurdo. A UE não está em posição de ganhar uma guerra comercial. A zona euro tem um excedente em conta-corrente com o resto do mundo de quase 4% do produto interno bruto. Pior ainda, o comércio não é um assunto em que os interesses dos Estados membros estejam alinhados. A Alemanha e a Holanda seriam mais afetados pelas tarifas norte-americanas do que a França ou a Itália.
Eu compreendo, claro, a carga emocional por trás de uma resposta forte. Mas um pensador estratégico perguntaria: quem vai tremer primeiro? Donald Trump ou um Conselho Europeu dividido? A UE deve meditar nas palavras de Carl von Clausewitz, o historiador militar alemão, que desaconselhou a guerra, a menos que haja expectativas de poder ganhá-la, exista uma estratégia para a terminar e a capacidade de manter o apoio popular durante a campanha. Não acredito que os europeus cumpram algum destes critérios.
A melhor resposta às taxas dos EUA sobre os carros seria em duas partes interligadas. A primeira deveria ser um corte unilateral na própria taxa da UE de 10% sobre os carros, independentemente do que Trump faça. Em segundo lugar, a UE deve obrigar a Alemanha e a Holanda a adotar medidas vinculativas para reduzir os seus excedentes da balança corrente ao longo do tempo para menos de 3% do PIB.
Juntas, essas duas medidas ajudariam muito a resolver o problema. No passado, os alemães nunca aceitaram críticas ao seu excedente em conta-corrente, que agora está em 8% do PIB, mas uma mudança na política comercial da UE poderia incentivá-los a isso.
Aqueles que criticam o presidente dos EUA pelas suas ameaças de impor tarifas estão certos, é claro. Mas eles deveriam pelo menos reconhecer que a UE tem vindo a fazer o mesmo há anos.
A taxa da UE sobre os carros tem sido uma medida protecionista que beneficiou principalmente os fabricantes de veículos de pequeno e médio porte, principalmente franceses e italianos e, em menor medida, os fabricantes alemães. Uma eliminação unilateral das taxas levaria a um corte de 10% no custo dos carros do Japão e da Coreia do Sul. Mas os acordos comerciais recentemente celebrados com os dois países levarão a que essas tarifas sejam eliminadas de qualquer maneira. Então, porque não acabar com elas mais cedo?
Com este compromisso, a França e a Itália ganhariam com a redução dos desequilíbrios na zona euro. A Alemanha e a Holanda ganhariam com a manutenção de um regime comercial aberto.
Mas e se o abandono das taxas dos automóveis europeus não impressionar o senhor Trump? Se o seu objetivo for livrar a América dos carros alemães, não há nada que a UE possa fazer.
O meu conselho para o bloco europeu é "comer e calar" e usar o seu capital político na solução dos desequilíbrios subjacentes. Os excedentes comerciais da Alemanha são o resultado das reformas laborais da última década. Elas não foram coordenadas com o resto da UE e acabaram deprimindo os salários alemães dentro da zona euro e contra o resto do mundo. A subsequente crise da zona euro fez que os cortes salariais alemães não fossem neutralizados por uma taxa de câmbio crescente. A Alemanha conseguiu assim ganhar competitividade global através de um corte salarial.
A UE precisa de resolver esta questão em primeiro lugar e não se distrair com guerras comerciais que não tem esperança de vencer. Isso exigiria uma mudança na gestão económica. Ou a Alemanha e a Holanda aceitam défices orçamentais, por exemplo na forma de despesas mais elevadas com a defesa, ou a zona euro cria uma capacidade orçamental independente com o objetivo explícito de manter a conta-corrente próxima do equilíbrio.
A razão pela qual continuo cético é a UE ter há muito perdido o interesse em resolver problemas reais. Culpar Trump reforça o sentimento de superioridade moral inata dos europeus. O papel de vítima adequa-se muito bem à atual União Europeia.
© 2018 The Financial Times Limited