A eterna juventude do botox
Há dez anos uma toxina mudou o mundo. Ou pelo menos tornou-o mais bonito. A toxina botulínica foi aprovada pelas autoridades americanas para fins estéticos há exatamente uma década. O botox tornou-se o melhor apagador de rugas que as mulheres já tinham conhecido, fazendo esquecer cremes e outros tratamentos. Na verdade, o botox funciona paralisando os músculos que criam as rugas, em milhares de pequenas expressões. Uma pequena injeção desta toxina e adeus rugas de expressão. O botox não foi criado especificamente para a estética. No final da década de 1960 um oftalmologista americano chamado Alan B. Scott estava a trabalhar num tratamento não cirúrgico para o estrabismo e recebeu amostras da toxina botulínica do colega bioquímico Edward J. Schantz. O objetivo era testá-la nos músculos dos olhos dos macacos. A experiência foi um sucesso: em 1973, Alan publicava o primeiro trabalho sobre o assunto, reconhecendo a toxina como uma alternativa eficaz à cirurgia em casos de estrabismo. O entusiasmo com a descoberta valeu-lhe a autorização da FDA (Food and Drug Administration, a entidade que regula o setor de medicamentos nos EUA) para usar a toxina em seres humanos. Alan estava longe de pensar no que aí vinha. Foi quando o botox foi parar às mãos de um casal canadiano de médicos, uma oftalmologista e um dermatologista, Jean e Alastair Carruthers, que as suas potencialidades na estética se revelaram. Em várias experiências, este casal de médicos complementou os seus conhecimentos e percebeu que a toxina relaxava os músculos em determinadas doenças associadas a espasmos. E, ao mesmo tempo, deixava os pacientes sem rugas. Os médicos registaram que os pacientes tratados com botox contra as piscadelas involuntárias dos olhos tinham também uma redução notável dos pés-de-galinha. A medicina parecia ter encontrado uma panaceia. Começou a usar-se a toxina botulínica na cura do excesso de transpiração nas mãos, nos pés e nas axilas, e a dermatologia cirúrgica passou a usá-la para o tratamento das rugas dinâmicas da face. Em abril de 2002, a FDA aprovava definitivamente o uso cosmético da toxina, obtida a partir da bactéria Clostridium botulinum. Por ser o nome da marca pioneira na comercialização para fins estéticos (a Botox, produzida pelo laboratório Allergan), o produto ficou conhecido de todos como botox. Ainda assim, existem outras marcas disponíveis no mercado: a farmacêutica Galderma é responsável pela Dysport, a Merz registou a Xeomin e a Cristália comercializa a Prosigne. Mas, na sua substância, continua a ser insubstituível. É Manuel Jorge, médico da Clínica Thalassa, especializado em medicina antiaging quem o diz. «Sempre que se veem lábios ou maçãs do rosto demasiado cheios pensa-se que é o botox o culpado, quando na verdade ele é confundido com produtos de preenchimento, como o ácido hialurónico, a hidroxiapatita e outros», explica. Na zona da ruga vertical entre as sobrancelhas, nas rugas horizontais da testa e ao redor dos olhos (os chamados pés-de-galinha), o botox é o único produto que consegue pôr os músculos responsáveis por essas rugas em repouso durante uns meses. «Trata a causa, ao bloquear a sinapse neuromuscular. Mesmo que um dia se pare de pôr botox, existe um efeito benéfico porque os músculos não voltam a estar tão fortes como antes da aplicação, e a pessoa fica com um ar descansado durante um certo tempo», aponta o médico. «É inócuo, dura de três meses a um ano, dependendo do paciente, pode aplicar-se à hora do almoço como quem vai ao cabeleireiro e tem pouquíssimas complicações. Nós injetamos o produto e, a partir do momento em que se pica, pode haver pequenos hematomas e um bocadinho de dor. Mas até isso sabemos disfarçar e, regra geral, se é bem feito, as pessoas gostam.» Encanto ao naturalLili Caneças é uma das mais famosas adeptas do botox. «Só usei na testa», garante. Mas adorou os resultados. «Ficou lisinha, sem rugas de expressão. Melhorou muito a minha aparência.» Além da idade, a socialite sofre também o efeito do muito sol que apanhou na vida. «Passei anos e anos a bronzear-me na ilha Maurícia e em sítios tropicais. As pessoas acham que estou plastificada, mas esperei até aos 57 anos para fazer um peeling, quando a minha pele já estava um pavor. Tudo o mais foram pequenos retoques para me sentir bem, nunca fiz um lifting completo.» «Tenho 68 anos, não escondo a minha idade. E também não percebo a razão de as pessoas ridicularizarem tanto as intervenções, aproveitando os casos que correram mal, quando 99,9 por cento correm bem.» Ela própria nunca fez segredo, e é até embaixadora da Corporacion Dermoestética, que também conta com o sucesso das intervenções que nela são feitas para as divulgar num setor de mercado onde há muitos clientes. «Vou para o Brasil desde os meus 20 anos e toda a gente faz, da doméstica à empresária de sucesso, pago a pronto ou a prestações.» Foi com preconceitos que Duarte Menezes, o famoso cabeleireiro do jet set português chegou ao botox. Mas decidiu experimentar. «Tenho 42 anos, a primeira vez que pus tinha 30. E ia apreensivo», confessa. Alisou as rugas na zona da boca. «Doeu-me um pouco e ficou um bocadinho inchado nessa altura, as agulhas eram maiores do que são agora. Mas fiquei com a cara muito leve.» Desde então repetiu a dose oito vezes, com cada aplicação a durar-lhe entre seis e oito meses. «Aos poucos, o preconceito de se recorrer ao botox vai sendo menor», diz Duarte, que conhece muitas mulheres na sua profissão de cabeleireiro. «O botox é uma espécie de vício saudável.» O médico Manuel Jorge, que admite ter cada vez mais clientes homens, confirma a dependência: «A pessoa gosta tanto daquele ar descansado de quem veio de férias que acaba por voltar a fazer.» Manuel Jorge garante que o medo de perder a expressão é infundado, isso só acontece quando as doses são excessivas ou mal aplicadas. «Existe o babybotox, em que uma pequena dose é aplicada em várias zonas. Há gente que me pede a dose standard em apenas uma zona, mas se for o caso aviso que vai haver um grande contraste e, se calhar, mais vale reduzir um bocadinho a quantidade num ponto, para ter algum movimento, e espalhar o resto para um efeito mais natural.» O segredo de um bom procedimento, segundo ele, é precisamente esta individualização. Mafalda Teixeira fez pela primeira vez uma aplicação de botox antes da sua estreia no teatro de revista. Resultado: «Adorei a forma como me abriu o olhar, tão importante na minha profissão.» Mafalda tem apenas 30 anos e corrigiu as rugas de expressão na testa e no contorno dos lhos. «Tenho um protocolo com a Clínica Biscaia Fraga, onde iniciei uma série de tratamentos estéticos ao corpo e ao rosto.» O botox foi uma surpresa do médico que dá nome à clínica e serve como publicidade à técnica, apesar de a atriz garantir que só se dá por isso quando ela o refere. «A Madonna fez e está fantástica», ri-se. «E eu também.» Com pés e cabeçaAo longo dos últimos 15 anos, António Matos da Fonseca foi acompanhando com visão crítica o aparecimento de novos produtos complementares à medicina tradicional, mas que frequentemente revelaram uma importância primordial em determinados tipos de patologias. Como cirurgião, escrutinou o botox até às últimas consequências, concluindo que as vantagens são muito superiores ao eventual desconforto que se possa sentir. «Pode até haver complicações mais graves, como querer tirar uma ruga periocular, injetar o botox muito profundamente e afetar os músculos do olho, deixando um estrabismo temporário. Mas isso é já por uma manipulação desajustada e não pelo produto em si», defende. Enquanto responsável pela Clínica da Face - um centro de cirurgia maxilofacial e plástica, especializado em estética e no tratamento de deformidades da face -, tem vindo a aplicar com bons resultados sempre que as situações o exigem. Também na área clínica a toxina tem efeitos miraculosos. «Da cabeça aos pés», como diz o médico. Pode ser utilizado na incontinência urinária e bexiga hiperativa, em contrações musculares involuntárias em diferentes partes do corpo (distonia). Usa-se em pessoas com espasmos - um dos distúrbios motores mais incapacitantes que ocorrem em pessoas com lesões no sistema nervoso -, em pessoas que transpiram de mais, em crianças com paralisia cerebral, no controlo de espasmos em doentes com Parkinson, como tratamento para a enxaqueca e o bruxismo - ranger dos dentes. António Matos da Fonseca recentemente ajudou um doente com uma dor de cabeça permanente há mais de 15 anos a livrar-se do suplício. Uma senhora perto dos 80 anos, com um problema muscular na face que a fazia piscar o olho desde os 20, num calvário de décadas, viu resolvido o seu problema. Uma senhora que sofria de Parkinson deixou de estar permanentemenmte a deitar a língua de fora. «Foi uma grande descoberta, esta do botox como produto de utilização médica. Quase que temos de ter um pouco de imaginação para saber onde mais o podemos utilizar», explica o médico. Como rejuvenescer... sem botox.Adeus às olheiras - Nunca saia à rua sem disfarçar as olheiras e os papos. Os corretores de olheiras são hidratantes e no mesmo tom da pele podem fazer milagres. Cobertura ligeira - Não cubra rugas e imperfeições com camadas compactas de maquilhagem. Fluidos ligeiros, que hidratam enquanto disfarçam, resultam melhor. Olhar profundo - O eyeliner é imbatível a aumentar os olhos mas, a partir dos 40 anos, opte pela simplicidade de um risco negro ou caviar, sublinhando a linha superior das pestanas, mas não a inferior. Aqui, um lápis branco é ideal para não envelhecer o olhar. Pestanas mariposa - Pálpebras descaídas podem ser visualmente corrigidas com pestanas curvas e alongadas. Usar máscara é meio caminho andado para rejuvenescer a expressão depois dos 30 anos, mas com cuidado para não passar demasiado produto. Luz com brilho q.b. - Com a cútis a tornar-se mate com a idade, faça uso de iluminadores e de pré-bases finos, soltos e do tom da pele, com partículas que iluminem a testa, o nariz e o queixo. O facto de refletirem a luz dissimula as rugas. Produtos à base de silicone não são recomendados para peles maduras, já que tapam os poros e realçam as rugas. Bases vitaminadas - Mais do que cobrir, as bases modernas têm a função de nutrir e tratar, motivo por que deve preferir as versões enriquecidas com vitaminas, no tom adequado, e aplicar creme protetor sempre que possível. Os tons rosados e frutados, porque reproduzem o rubor do rosto, são os mais adequados. Manicura militar - O castanho e o verde seco estão em alta, tanto quanto os cortes militares e os padrões camuflados. As unhas não fogem à regra e querem-se largas, ovaladas sem ser em excesso e arrasadoras nas cores de tropa. Rejuvenescem as mãos. Assumir as rugas - Se cobrir as rugas resultar demasiado artificial, mais vale assumi-las como sinais de experiência e exibir um rosto ao natural, como fazem as veteranas de Hollywood Meryl Streep, Susan Sarandon ou Glenn Close. Em último caso, aplique uma sombra ligeira em dégradé: disfarça as rugas ao chamar a atenção para o olhar. Lábios jovens - Não estão imunes ao passar do tempo, mas podem ser revitalizados com um contorno de lápis da mesma cor, para delineá-los, seguido de gloss para criar o efeito visual de volume. Também as cores vivas e quentes rejuvenescem os lábios. Sobrancelhas generosas - Sem chegarem a ser unidas e farfalhudas como as da pintora mexicana Frida Kahlo, as sobrancelhas querem-se mais grossas e escuras do que finas - a antítese da juventude. Se as tiver ralas, pinte os espaços vazios com uma sombra mate ou penteie-as para cima e fixe-as com um gel especial.