A ESTREIA QUE DUROU SEIS MINUTOS

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Aniversário. Os Xutos & Pontapés deram os primeiros passos frente a uma plateia num concerto que celebrava os 25 anos do rock. Foi a 13 de Janeiro de 1979. Tocaram quatro canções. Mas lançaram uma carreira

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13 de Janeiro de 1979... Pouco tempo antes tinham já escolhido o nome. Alguém sugeriu Beijinhos e Parabéns... Mas optam pelo mais rebelde Xutos & Pontapés. Era a manhã do primeiro concerto. Um concerto que comemorava os 25 anos do rock'n'roll, nos Alunos de Apolo, em Lisboa, e um convite surge quase do nada. Havia uma possibilidade para tocar... Quem é que não iria aproveitar?

Tudo começa com um telefonema de Pedro Ayres Magalhães, que tinha decidido colocar um ponto final nos Faíscas, pensando já no projecto seguinte: o Corpo Diplomático. "Diz-me que tínhamos de ir lá tocar e aproveitar a oportunidade... Que era eu que tinha de ficar a tomar conta do punk. Coisas de guerrilheiros...", recorda Zé Pedro ao DN. Consegue logo falar com Tim e Zé Leonel. E marcam um ensaio, para essa mesma tarde na Senófila, em Almada. "Mas o Kalu estava na primeira semana da tropa. E como não havia telemóvel, fui para a porta do Ralis, para ver se o apanhava a sair", lembra. E apanhou! Tinha passado o Natal, o Ano Novo, e há um tempo que não falavam. "Fazemos o ensaio, a correr, antes de jantar. Colamos ali quatro músicas", vão jantar... E tocam às duas da manhã... "Foram quatro músicas em seis minutos... Era eu que dava as saídas. Já chega... vai outra", relata Zé Pedro. Tocaram vários temas, entre os quais uma homenagem a Bo Diddley, "que era o Bo Tás à Rasca"... A 30 anos de distância, lembra que devem ter tocado "aí um bocadinho de cada uma, porque não tocámos nem metade das músicas!" Ninguém assobiou e ninguém bateu palmas... Foi rápido. "Tão rápido! Mas fomos festejar como sendo uma grande banda. Agora já ninguém nos vai parar..." E de facto não mais pararam!

Estávamos ainda longe de imaginar que, pouco mais de um ano depois, Chico Fininho , de Rui Veloso, e Rua do Carmo, dos UHF, viravam êxito à escala nacional. Já se fazia rock'n'roll em Portugal desde finais dos anos 50. Mas apesar dos sucessos ocasionais de nomes como os Sheiks, Conjunto Académico João Paulo ou Quarteto 1111, entre alguns mais, este era um género que nunca tinha conhecido um estatuto de primeira linha na agenda das prioridades da música portuguesa.

Mas Zé Pedro, o guitarrista dos Xutos & Pontapés, sentiu cedo uma atracção pelo rock'n'roll. "Eu era puto, vivia nos Olivais, mas nessa altura andava já atrás das bandas. Já tínhamos os discos dos Petrus Castrus, o D. Sebastião, do Quarteto 1111...". Ouve rádio, descobre as revistas de música (como a Rock & Folk), e começa a comprar discos: "Tudo o que chegasse nós devorávamos, para saber o que era. E como chegava em pequenas quantidades, tinha tempo para devorar a novidade." Alguns dos discos são descobertos na Discoteca do Carmo, em Lisboa. Outros, são encomendados do estrangeiro por serviços de venda postal. E como escolher? Lia as revistas e, entre amigos, faziam opções. "Por exemplo, comprei os Ramones, que nem sabia o que eram, porque li uma notícia, com uma fotografia, que falava de uma banda em Nova Iorque que trabalhava sobre três acordes..." Leu as letras. Gostou. E acertou em cheio.

Em 1977, num InterRail, passa por Mont-de-Marsan (em França), onde assiste a um festival punk. "Aí as coisas fizeram todo o sentido para mim. Quando voltei, espetei logo um alfinete na boca, rapei o cabelo... E juntei-me a mais uns na minha onda. Encontrávamo-nos numa cervejaria, entre a Munique e a Trindade. Todos tínhamos uma banda. Como um bom punk... Não éramos muitos. Aí uns 15 ou 20. Mas havia uma grande troca de informação entre bandas. Um descobria os Stranglers, o outro, os The Only Ones, os The Saints... E tudo isto acompanhado muito pelo [António] Sérgio".

O Festival em França é o gatilho para tudo o que acontece. E, de certa maneira, o início de uma dedicação à música que determinaria, menos de dois anos depois, o nascimento dos Xutos & Pontapés. Antes, recorda, já estava a acompanhar uma banda dos Olivais: os Ficha Tripla. "Ia aos ensaios deles... Mais tarde conheci o Manuel Cardoso, dos Tantra. Conheci também o Pedro [Ayres Magalhães, então nos Faíscas]. Ia ver bandas ao Cinema da Encarnação e depois ficava a conhecer a malta que tocava... Havia ali já o bichinho. Só faltava a definição do que ia fazer..."

Mais dia menos dia, Zé Pedro acabaria por formar a sua banda. Assim foi. "O Kalu vem de anúncio de jornal", na verdade para um lugar nos Faíscas, entretanto, novamente ocupado pelo baterista da banda. "Ia formar uma banda! Chegámos a ter data agendada. O baixista seria o Zé Leonel. Eu também estava a dar uns primeiros passos na guitarra... E o cantor era o Paulo Borges, que depois vai formar os Minas e Armadilhas. O Tim vem de Almada. Havia a ligação porque os UHF tinham começado lá. O Zé Leonel, tinha passado para vocalista e faltava-nos um baixista", Marcaram um ensaio... Entenderam-se. E a 13 de Janeiro de 1979 davam o primeiro concerto.

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