Juan Fernández Miranda é editor da secção Espanha no jornal ABC e comentador político na Cadena Ser, EsRadio, Cuatro e Telemadrid..Em entrevista ao DN, analisa o que poderá ser o futuro da política espanhola, depois de na semana passada o rei Felipe VI ter decidido não convidar nenhum candidato à investidura por nenhum ter apoios sólidos para formar governo. O prazo para um acordo entre os partidos, o qual já ninguém acredita que seja possível, termina nesta segunda-feira, dia 23, à meia-noite..Com novas eleições legislativas antecipadas no horizonte, provavelmente a 10 de novembro, os partidos já entraram em modo de campanha para atrair os indecisos. PSOE, Ciudadanos e Partido Popular querem ficar com os eleitores do centro para si..É negativo para Espanha mais umas eleições antecipadas? Isso é garantido. Em primeiro lugar, porque os espanhóis votaram para que se formasse um governo, e isto é um fracasso da classe política, com distintos graus de responsabilidade. É um problema porque a situação económica de Espanha, com sintomas de desaceleração importantes, requer medidas, é preciso um Orçamento do Estado... Ainda estamos com o OE do tempo do governo do Partido Popular, o que significa que desde a moção de censura [1 de junho do ano passado] não foi possível fazer uma política económica razoável na linha do governo liderado por Pedro Sánchez. É um fracasso desde todos os pontos de vista. A paralisação afeta todos. Em Espanha, nos últimos quatro anos, foram aprovadas poucas leis e nenhuma de grande importância. Há um bloqueio político além deste fracasso..Nesta segunda-feira dissolve-se o Parlamento. Quais são os passos a seguir? Depois das eleições, o rei convoca uma ronda de consultas e propõe o candidato com mais possibilidades de formar governo. Em julho, considerou que [Pedro] Sánchez era o mais indicado, mas ele não foi apoiado pelos outros partidos. Nesse momento abre-se um período de dois meses que se devem esgotar e, caso não haja mais nenhuma tentativa de formação de governo, são convocadas eleições diretamente. Nesta segunda-feira à meia-noite, dissolve-se o Parlamento e as eleições decorrerão 54 dias depois, segundo o prazo estabelecido por lei. Após a última repetição de eleições foi aprovada uma reforma eleitoral para que, num futuro cenário igual, houvesse mudanças. Desta vez a campanha passa a ser de uma semana e os partidos recebem menos dinheiro. As pessoas estão aborrecidas e muitas estão já a pedir para não receber a publicidade eleitoral..Esse aborrecimento pode levar a uma menor participação? É a grande pergunta e o grande receio dos partidos, mas também a grande incógnita. Não há nada que nos diga quem vai votar. É razoável que a participação baixe. Quanto e onde, direita ou esquerda, jovens ou velhos? E isso pode mudar tudo. A abstenção é o sexto partido..As eleições são a saída procurada por Pedro Sánchez desde que viu falhada a sua investidura. É uma aposta arriscada? Sánchez fez os seus cálculos. 123 deputados [que conseguiu nas legislativas antecipadas de 28 de abril] é um bom resultado em relação ao segundo partido, mas é insuficiente para formar governo. É uma aposta arriscada porque não sabes como se vão comportar os cidadãos. Há uma perceção geral de uma subida do bipartidarismo e de um castigo dos novos partidos porque começam a ficar associados aos problemas. Convocar eleições é sempre arriscado. Não podemos esquecer que Pedro Sánchez é um político de tática e gosta de arriscar, mas vai ganhar as eleições, disso não há dúvida nenhuma..Existe o risco de ter resultados parecidos aos últimos, mas pequenas mudanças podem ser decisivas. Pequenas mudanças podem supor grandes mudanças. Hoje uma das alternativas de governo é o PSOE aliar-se ao Ciudadanos (com 180 deputados). Se o Ciudadanos perder algum deputado e o PSOE se mantiver, essa é uma alternativa que se perde. Outro exemplo: o PSOE sobe e o Podemos não baixa muito. Entre os dois podem formar governo sem contar com os independentistas. A mudança será pequena mas pode ajudar à governabilidade..Vai ser uma boa campanha? Em Espanha, as campanhas são importantes porque existem muitos partidos e qualquer pessoa tem dois partidos perto da sua ideologia. Há muita gente que espera até o último momento para tomar uma decisão. E as campanhas são importantes por isso, porque um erro ou um acerto pode atrair os votos do indeciso..Vão falar de política nesta campanha? Os partidos contam os seus projetos e têm programas, mas o debate fica no superficial. Se se fizer uma leitura mais profunda das propostas dos partidos, vamos encontrar modelos distintos..Os líderes ganharam muito protagonismo? A política é feita pelas pessoas e as relações entre as pessoas são uma coisa importante. Neste momento temos uma classe política em que a personalidade dos líderes é muito forte, têm um protagonismo alto dentro do partido, o que complica as coisas. Mas depois destas eleições isto vai acabar, porque umas novas eleições seriam imperdoáveis, seria um escândalo..Qual vai ser a estratégia de Sánchez? Fazer-se de vítima. No PSOE já se transmite a ideia de que há uma conspiração por parte de todos para que não governe Pedro Sánchez. Mas isso parte de uma falsidade, que assenta na ideia de que quem deve governar é o partido que fica em primeiro lugar. Sánchez vai procurar responsabilizar os outros e mostrar-se como única alternativa ao que ele chama as três direitas. Quer assustar os eleitores como fez nas anteriores eleições com o fator Vox porque sabia que isso causava muito medo. Mas agora está mais diluído. A chave desta campanha é ver como se disputam os votos do centro, do PSOE e do Ciudadanos, sendo certo que isso vai depender do que façam os dois. Sánchez quer ganhar o centro e é o rival direto de Ciudadanos..Em Espanha há equilíbrio entre os votos à direita e à esquerda? Há um bloco à esquerda e um bloco à direita, e neste último há fragmentação. Esta vantagem vai ser utilizada por Pedro Sánchez..Antes das legislativas vai ser conhecida a sentença do Procés. De que forma vai afetar o desfecho eleitoral? Penso que Sánchez vai adotar uma posição muito firme, de Estado, próxima ao discurso do Ciudadanos e do PP. Com isto revela que a sua intenção é crescer através do centro..Espanha Suma. Poderia funcionar? É uma proposta liderada pelo PP para se apresentar como voto útil da direita. É uma estratégia do PP a médio e longo prazo porque o Ciudadanos não quer. Pensa que pode não ser positivo e não quer diluir a sua imagem de marca. Se calhar Espanha Suma pode crescer nalgumas províncias, como Navarra, Cantábria ou País Basco, por exemplo..O Ciudadanos encontra-se numa situação difícil... O Ciudadanos pode ser o partido que mais vai perder porque nasceu com um discurso antinacionalista que servia de apoio ao PP e ao PSOE. Nas últimas eleições, Albert Rivera deu uma reviravolta e disse que nunca negociaria governo com Sánchez e que a sua única alternativa era negociar com o PP. Albert Rivera é o que está mais ameaçado..Veremos crescer ainda mais o Vox? É um partido peculiar, que cresceu muito para ocupar um espaço que estava vazio. Estão entusiasmados com o seu líder, Santiago Abascal. Vamos ouvir falar muito deles, mas depois vão-se dissolver.