A estranha posição do PCP sobre a Guerra

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A guerra na Ucrânia tem vindo a criar brechas na sociedade portuguesa. A pluralidade de opiniões tem sido alvo sistemático de ataques, como se alguns setores políticos quisessem transferir o confronto militar em curso na Ucrânia para um ajuste de contas com o pluralismo e a diferença de opiniões e impor um pensamento único. O alvo principal de todas as críticas tem sido o PCP geralmente descrito como um agente moscovita, aliado de Putin e conivente com os crimes de guerra que os russos possam ter cometido. Mas na realidade não é só o PCP o visado, sendo todas as posições contra a Guerra igualmente atacadas. Até Miguel Sousa Tavares, bem longe do PCP, se queixou em artigo inteligente.

Como observador atento o que retive é que o PCP considera a Ucrânia e a Rússia países capitalistas e a guerra como sendo uma guerra intercapitalista, isto é entre duas potências capitalistas e portanto alheia aos interesses dos trabalhadores de que o PCP se considera defensor. Também considera que a denominada "operação militar" foi uma invasão que deve ser claramente condenada. O PCP reconhece que Putin não desencadeou a invasão numa manhã em que acordou mal disposto mas antes que esta resulta de uma série de causas a mais longínqua das quais o golpe de 2014 que depôs um Presidente ucraniano livremente eleito. Posto isto o PCP acrescenta que a Ucrânia tem um governo ditatorial, o Partido Comunista ucraniano está ilegalizado há vários anos, com elementos abertamente fascistas pelo que o regime de Zelensky também não deve ser apoiado. Acrescenta a este repúdio de ambas as partes, a defesa de uma solução urgente e pacífica para o conflito. A tónica geral é pela Paz contra a escalada da guerra.

Se atentarmos em cada aspeto da posição do PCP, concordemos ou não com eles, todos eles são de simples entendimento e de fácil compreensão. Nenhum deles se confunde com um apoio a Putin ou ao regime russo.

Porquê então esta histeria coletiva em alguns media portugueses? Tal só pode ser explicado pela intervenção do poder político com vista a criar uma falsa unanimidade da opinião pública a favor de uma eventual participação portuguesa em guerra contra a Rússia. Devem os media alinhar com o poder político nesta questão?

Sem dúvida que o interesse nacional deve ser defendido. Mas até que ponto este deve sobrepor-se à democracia e à livre expressão de todas as opiniões? O grande exemplo chega-nos do Reino Unido durante a II Grande Guerra, quando o país estava em guerra, era bombardeado constantemente, mas apesar disso o Partido Trabalhista Independente pôde continuar a sua atividade sendo um partido abertamente contra a Guerra e pacifista.

Recordemos também que o interesse nacional não coincide sempre com as posições do poder político. Lembremo-nos da guerra colonial como exemplo recente. Uma guerra defendida pelo poder político que não acautelava o interesse nacional.

A opinião do PCP deve ser respeitada e não deturpada, bem como a voz polifónica e dividida de todos aqueles que defendem a Paz e se opõem à escalada militar. Defender a Paz não é defender Putin. Defender a Paz não é ser conivente com o inimigo. Não criemos um inimigo interno onde não existe.

Quando celebramos o 25 de Abril e a democracia é isso que celebramos: a diversidade de opiniões, a liberdade para as exprimir, a existência de imprensa livre, como o DN tem sido exemplo, que a todos acolha sem preconceitos.

Pessoalmente acredito que a defesa da Paz, um entendimento entre a NATO e a Rússia, é a única solução para o conflito ucraniano. Estou convicto que se tal não for alcançado podemos assistir a uma escalada da guerra para patamares mais destrutivos e ao seu alastrar a outras geografias. É preciso evitá-lo a todo o custo. Para que os nossos filhos e netos possam chegar a velhos.

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