"A estética que eu apresento aqui é de telefilme"
O ator galã de novelas e de Jesus Cristo da série americana A Bíblia volta à cadeira de realização agora numa longa. Malapata é a história de dois colegas de trabalho que depois de ficarem com um bilhete do Euromilhões premiado percebem que as suas vidas entram numa espiral de azar. Rui Unas, Marco Horácio e Luís de Matos a fazer de Luís de Matos são os protagonistas de um filme adquirido por uma operadora de comunicação. Uma comédia popular feita em regime low cost.
De onde surge este conceito de humor de situação, um elemento de comédia concetual que é mais comum em filmes americanos?
Eu e o meu irmão Pedro pensámos muito em qual dos géneros nos iríamos aventurar para a primeira longa-metragem. Preparámos este filme muito ao longo do tempo depois de algumas curtas, pois a grande maratona, sem dúvidas, é a longa. Essencialmente optámos por um género despretensioso, sobretudo para a nível de produção nos permitir não cometer muitos erros. A ideia era a história ser simples e que os atores fossem as traves mestras. A comédia não vem das personagens mas sim das situações. E as situações, elas sim, são insólitas, caricatas e o humor acontece precisamente com as reações das personagens a essas mesmas situações. Tentámos também entrar num lado místico e oculto em que se brinca com essas coisas do azar e da sorte. Acabámos por ter atores como um peixe num aquário, mas mesmo assim procurando tirá-los um bocadinho da sua zona de conforto. O Marco Horácio e o Rui Unas fizeram personagens reais. Costumo dizer que Malapata é um filme de amizade disfarçado de comédia.
Terá algo de "bromance"?
Exato! Tanto nas curtas Break e Excuse consegue perceber-se que gosto de juntar pessoas de mundos opostos ou que numa outra circunstância não interagiriam. Afinal, todos somos feitos da mesma matéria e temos os nossos mecanismos de defesa.
Mas sente que é alguém com piada? Tem os chamados ossos cómicos?
Penso que sim!
Na apresentação em Lisboa realçou que este era um filme feito entre amigos, coescrito com o irmão, com imagem de um amigo da escola, etc. Essa foi uma das ideias deste projeto?
Sim! Essa era a única forma de me sentir seguro nesta odisseia que era fazer um filme com poucos recursos. Tinha de contar com o apoio, o carinho, a força e a amizade de malta megatalentosa que percebe o que estou a tentar fazer. Por muito que possa passar uma imagem errada, o que estamos a fazer é muito, muito despretensioso. Aliás, sou o primeiro gajo a enaltecer o bom cinema que se faz em Portugal. Adoro o trabalho do Marco Martins, do Ivo Ferreira e do António-Pedro Vasconcelos! São tipos absolutamente geniais naquilo que fazem. O cinema deles é vital e muito necessário para a nossa cultura e para aquilo que fazemos. Para mim, a nossa luta é dizer que deve haver espaço também para outro tipo de coisas.
Está a dizer que falta também um pouco de cinema de entretenimento?
...sim! Acho, mas também acho que entretenimento não deve ser encarado levianamente e ser feito às três pancadas.
Mas acredita que um filme como Malapata deva ser subsidiado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual?
Acredito que o critério de seleção dos filmes já há muito me fez desistir de pensar nesse tipo de financiamento. Não é por acaso que a MEO apostou no filme. Acredito que as marcas privadas podem perceber que o nosso cinema está vivo e podem começar a pensar que é uma aposta comercial favorável apostar em cinema português!
Mas reconhece que têm aparecido filmes de suposto interesse popular muito fracos?
Sim, lá está... isso é subjetivo mas muitas vezes falta a esses filmes o elemento surpresa.
Teve poucos meios. Gostaria de ter dado ao filme uma maior escala por certo, um outro profissionalismo...
Claro! Mas o caminho faz-se caminhando. Malapata antes de ter qualquer parceiro foi todo feito com investimento meu! Por acaso correu bem, pois caso contrário poderia ser difícil continuar a fazer filmes. O próximo será um thriller... Todavia, é preciso lembrar que nunca foi pensado para ir para as salas de cinema!! Nessa ótica, estávamos a contar a história de forma muito humilde. A estética que eu apresento aqui é de telefilme.
Pensou-o para ser descarregado em home cinema e mesmo online, certo?
Sim. Uma pessoa que veja este filme percebe claramente que não foi pensado para as salas de cinema ou, então, passa-me um atestado de incompetência.
Chegou a pensar-se que uma forma de lançar o filme pudesse ser apenas numa sessão única na Meo Arena?
Sim, houve várias coisas em cima da mesa. Essa foi uma delas...
Mas está em crer que fazer cinema para a internet pode ser uma via?
Pode, pode! A vantagem é que estamos a viver numa altura em que já não é incrivelmente caro fazer cinema com alguma qualidade. E a nossa aposta é fazer! Conseguimos mostrar que era possível fazer o filme que queríamos com aquilo que tínhamos!
Tudo isso invalida que volte a tentar os financiamentos oficiais?
Claro que não, mas Malapata, feito desta maneira, foi uma prova dos nove para nós.
Muitos perguntam: porque é que não continuou nos EUA?
O CSI estava a começar a aquecer mas a série foi cancelada... Agora estou em Portugal mas com muito prazer.