A escola filipina que põe o filho do pescador a tocar Mozart ou Queen
"A nossa escola Casa San Miguel começou com 12 alunos, agora já temos 125. Começam a ser várias gerações, o que mostra como foi bem sucedida esta ideia de levar a música a estratos sociais que não eram os mais óbvios, pescadores, agricultores, uns 20% vêm da aldeia piscatória de San Miguel", explica Alfonso Cola Bolipata, também conhecido com Alfonso "Coke" Bolipata, jogo de palavras natural num país que foi colónia espanhola e depois americana. Ao seu lado, numa sala da embaixada das Filipinas em Lisboa, estão dois dos jovens músicos, Gabriel Mendonza e Zildjian Marcos.
Ele tem 22 anos e ela 16 e ambos são violinistas, mas chegaram ao projeto Pindaquit Virtuoso de formas bem diferentes. "No meu caso, a minha mãe estava cansada de eu não me interessar por nada e foi a uma loja de instrumentos musicais para comprar algo que me entretivesse", conta, entre risos, Gabriel. "E foi ali que aconselharam à minha mãe a escola e estou muito feliz pois descobri a minha paixão pela música", acrescenta o violinista, que deu tanto nas vistas que foi convidado a ir aos Estados Unidos desenvolver os estudos. Já Zildjian foi aconselhada por tios que tinham feito parte do projeto, as tais gerações a passarem o testemunho umas às outras a causarem o sucesso do grupo, que hoje atua em Lisboa, no Museu do Oriente, dia 25 estará em Fátima e por fim a 29 tocará em Ferreira do Alentejo, no âmbito do Festival Terras Sem Sombra.
Veja abaixo o vídeo dos Pundaquit Virtuosi:
"Temos um grande orgulho de integrarmos jovens de muitos estratos sociais e também de todo o país, de muitas das ilhas. Temos muitos de Luzón, a ilha onde fica a capital, Manila, mas também alunos de Mindanao, no Sul", sublinha Alfonso "Coke" Bolipata.
O repertório dos Pundaquit Virtuosi tanto é popular, com música filipina de várias regiões, como clássico e até moderno, pois pode incluir Bohemian Rapsody dos Queen. Neste circuito pela Europa, que começou em Viena, Portugal é a novidade, resultado da iniciativa da embaixadora Celia Anna Feria, que foi quem sugeriu também que este domingo, no Museu do Oriente, fosse tocado "Amar pelos Dois", a música com que Salvador Sobral venceu a Eurovisão em 2017.
Na primeira metade do espetáculo no Museu do Oriente tocará a Orquestra Geração, baseada em Loures, também um projeto a pensar nos jovens e na música como integrador social.
Os Pundaquit Virtuosi deverão também participar na celebração em Lisboa do Dia das Filipinas, país muito ligado a Portugal por causa da viagem de Fernão de Magalhães no século XVI, faz agora 500 anos. Apesar da independência desta nação de mais de cem milhões só ter sido formalizada em 1946, os filipinos celebram a declaração independentista de 1898 frente aos espanhóis, que os Estados Unidos não aceitaram, substituindo durante meio século o antigo colonizador europeu, que batizara as ilhas em honra do futuro Filipe II de Espanha, então príncipe herdeiro. O pai de Filipe II era o imperador Carlos V, a mãe a portuguesa D. Isabel, filha de D. Manuel I.
"Sabemos pouco de Portugal nas Filipinas, tirando a história de Magalhães", admite Alfonso "Coke" Bolipata. A embaixadora concorda e diz que o mesmo acontece em Portugal em relação às Filipinas, por isso haver necessidade de mais eventos como este do Pundaquit Virtuosi. O concerto deste domingo é muito a pensar na comunidade filipina em Portugal mas tem as portas abertas a todos.