Dores Meira: "Escala de Setúbal não permite um fenómeno similar ao de Lisboa"

A presidente da Câmara de Setúbal recusa os efeitos da gentrificação na cidade. Elege o esforço de requalificação dos espaços públicos e a aposta dos agentes económicos no concelho para justificar a dinamização da Baixa, que voltou a ter vida diurna... e até noturna
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É visível a revitalização Baixa de Setúbal, com novas lojas, restaurantes e hostels. Que fatores têm contribuído para esta dinamização?

A dinamização da Baixa de Setúbal pode ser o resultado de dois fatores principais. Em primeiro lugar, e esta é a principal razão que está na origem desta revitalização, podemos destacar todo o esforço de requalificação urbana que a autarquia tem desenvolvido na última década. Temos vindo a apostar, sistematicamente, na melhoria da qualidade de vida urbana, com a realização de variadíssimas obras por toda a cidade e, claro, na zona central do concelho. As ações que poderia referir são inúmeras, mas é importante destacar a requalificação da rede viária e de espaços públicos, com a criação de novos equipamentos públicos de promoção cultural, como é o caso da Casa da Cultura, na Praça do Bocage, da Galeria de Arte do Banco de Portugal, da requalificação do Fórum Municipal Luísa Todi, ambos na Avenida Luísa Todi, e a reabilitação do Convento de Jesus. Estes equipamentos constituem-se como fatores de atração à nossa baixa, assim como a significativa melhoria operada em espaços públicos se constituiu num motivo de recuperação de confiança nas capacidades de Setúbal. Depois, é fundamental que destaque a confiança que muitos agentes económicos tiveram na cidade e no concelho e que os fez apostar em novos negócios, em particular nas áreas da restauração e da hotelaria. Esta confiança, potenciada pelas capacidades (culturais, sociais, paisagísticas, turísticas) de Setúbal e pelo investimento constante da autarquia na reabilitação urbana, faz com que estejamos no meio de um processo de enorme revitalização de uma zona comercial que, quer por razões relacionadas com o ambiente económico, quer por razões ligadas à perceção externa da cidade, esteve por alguns anos numa situação menos positiva.


Como é que a Câmara de Setúbal controla este crescimento de forma a não se repetir o que acontece em Lisboa, onde já se sentem os efeitos da gentrificação?
Não sentimos esse efeito. A escala da cidade não permite que haja um fenómeno similar. Temos um centro histórico que tem ainda muitos velhos edifícios disponíveis para reabilitação. Muitos foram comprados por pessoas que querem para aqui vir viver as suas reformas ou os seus tempos livres, outros por empreendedores imobiliários que apostaram na construção de habitação de qualidade e, claro, há também uma boa quantidade de espaços transformados em Alojamento Local. Numa cidade que esteve por demasiados anos afastada dos roteiros tradicionais do turismo, em particular do turismo estrangeiro, todos são bem-vindos. Esforçamo-nos permanentemente para que nos queiram conhecer melhor.

A Rua Arronches Junqueiro é referida como um local futuro para investir, nomeadamente pelas suas características e tradição. Há algum projeto da câmara para interditar a circulação automóvel, por exemplo, para colocar esplanadas?
A rua já tem a circulação restrita, embora não tenha sido pedonalizada na sua totalidade. Apesar de não ter estas características, é hoje, na verdade, uma rua onde as pessoas circulam com grande tranquilidade. Claro que, para ponderarmos a transformação da rua, teremos de esperar para ver a dinâmica que, ela certamente, irá ganhar.

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