A era dos slides
Sabíamos que os slides estavam votados à nostalgia e isso muito antes de a Kodak ter decidido acabar com a produção da película a cores mais famosa de sempre, a Kodachrome. Os melhores fotojornalistas elegeram-na desde o início. Pelas páginas da National Geographic Magazine e centenas de outras revistas, pudemos conhecer as cores mais distantes do mundo, dos líquidos campos de arroz vietnamitas aos ocres telúricos do Grand Canyon. Os extraordinários olhos da rapariga afegã que fizeram capa da National Geographic em Junho de 1985 foram registados pelo jornalista Steve McCurry num slide Kodachrome - e reencontrados ao fim de 17 anos, depois de testes de comparação da íris.
Em 1973, Paul Simon fez a canção homónima que falava das «cores brilhantes» e dos «verdes dos verões», terminando o refrão a rogar à mãe que não lhe tirasse a sua Kodachrome. Afinal, a «mãe» chamou-se «era digital» e custa muito desobedecer-lhe. Seduzidos pela facilidade do imediato, perdemos a paciência para o cerimonial dos slides, essa espécie de cinema em casa que acontecia em ocasiões especiais. Reunir a família, tirar o projector da caixa, encher o carrossel (pelo menos um slide ficará ao contrário, é escusado), pôr um livro por baixo, ajustar a lente, pôr mais um livro, lutar para ficar com o comando... clac! clac! clac! Projectadas na escuridão, as férias voltavam a recuperar as «cores brilhantes» da canção de Paul Simon e os «verdes dos verões» alastravam na parede branca. Assim é a vida autêntica: a cores e sempre maior do que a pequena moldura onde a tentamos encaixar.