A engenheira que controla frescos, fritos e grelhados
O ponto crítico é a temperatura. Não a temperatura do ar, porque Marta não trabalha na Meteorologia, mas a temperatura a que os alimentos são conservados e cozinhados, pois ela é a responsável máxima pela qualidade de toda a comida servida nos 1400 restaurantes McDonald's da Europa do Sul, região com contornos geográficos curiosos, pois Bélgica, Holanda e Suíça são três dos nove países que integram esta espécie de albergue espanhol.
"A temperatura é o ponto fulcral. Não só a temperatura a que os alimentos são armazenadas, mas também aquela a que são cozinhados. Para ser segura, a carne tem de ser grelhada a 69º ", explica Marta, acrescentando haver nuances em relação aos fritos. A UE aceita que o óleo atinja 182º, mas a legislação portuguesa é mais exigente e estabelece um tecto de 180º. "Como na McDonald's não gostamos de trabalhar em cima dos limites, fritamos a 178º, para ter margem", esclarece, antes de referir que os funcionários nos restaurantes estão obrigados a lavar as mãos de meia em meia hora (o que explica a manga curta dos uniformes) porque a higiene é o segundo ponto crítico.
O baptismo na McDonald's deu-se com uma sanduíche de frango (McChicken), quando ela tinha 18 anos, num restaurante em Filadélfia, onde o pai, oficial da Marinha de Guerra, estava colocado. No entretanto, Royal Deluxe (e às vezes M) passou a ser a sua sanduíche preferida.
Marta sempre viveu em Paço de Arcos. Estudou no Liceu Charles Lepierre, o que se compreende pois a mãe dava aulas de Português e Francês, e só se virou para as engenharias quando constatou que a sua média no secundário (15 valores) era curta demais para Medicina. Calhou escolher Engenharia Alimentar no Porto (onde viveu seis anos, partilhando um T2 na Foz com uma prima) e hoje está satisfeitíssima por estas opções.
No final do curso, a seguir a um estágio de seis meses em Reading, Inglaterra, na área dos vinhos, desatou a mandar currículos para todo o lado até que a chamaram da Matutano (grupo Pepsi) para um período de experiência no sistema de segurança alimentar. "Gostei muito de trabalhar na produção, a aplicar todos os conhecimentos aprendidos na faculdade", conta. A melhor prenda que recebeu no dia em que fez 25 anos foi dizerem-lhe ia ficar e com um contrato melhorado. "Até essa altura, o dinheiro que ganhava ia todo para a gasolina e para as portagens, nas viagens de ida e volta até ao Carregado", lembra Marta, que logo trocou o Uno a cair de podre por um Punto novinho em folha.
Foi feliz e progrediu muito na carreira durante os seis anos em que se demorou pela Matutano. O único problema é que não raro entrava às oito da manhã e só saia às onze da noite. "Tive de sair de lá para me casar", graceja. Mas, apesar da carga horária pesada e de continuar solteira, Marta não estava muito convencida de que queria mudar quando uma caçadora de cabeças a desafiou a ir para consultora de qualidade da McDonald's, que, como agravante, ficava ao pé da porta dela, em frente à praia de Santo Amaro de Oeiras.
"Foi uma decisão complicada porque profissionalmente estava muito bem na Matutano", diz Marta, que arriscou trocar uma multinacional por outra - aos 40 anos ela não sabe o que é trabalhar para o Estado ou para uma empresa nacional. Onze anos depois, olhando para trás, tem mais uma vez a certeza de que tomou a decisão certa. She is lovin'it!