A Emigração Inversa e o Desenvolvimento Tecnológico
Portugal está a viver um momento especial de progresso económico e de paz social, sendo esta fase uma enorme janela de oportunidade para a promoção de um desenvolvimento socioeconómico sustentável. De facto, a integração na Europa e a emergência de um espaço global de cooperação e desenvolvimento implicam que as diferentes sociedades entendam a importância dos fatores que condicionam a economia global, por exemplo a emergência de uma nova era digital no quadro da quarta revolução industrial. De base tecnológica e digital.
Portugal tem-se adaptado infraestruturalmente a esta realidade. Mas não chega. É verdade que houve uma forte aposta no aumento do número de doutorados em Portugal, na criação de centros de investigação de excelência, e mesmo na transferência de conhecimento das universidades para a economia real. Mas é preciso perceber que todos os setores da economia estarão interconectados por uma indústria global centrada nas tecnologias de informação e que os processos produtivos serão profundamente condicionados por fenómenos como a robótica, a inteligência artificial ou a computação quântica.
Por isso, e não menosprezando os excelentes investigadores que existem em Portugal, é fundamental implementar uma visão estratégica, e politicamente concertada, de "reverse brain drain". Isto é de fuga de talentos inversa. De reversão da diáspora que desde 2011 representa cerca de 7% da população nacional.
Sobretudo nos anos da crise económica houve uma enorme emigração de jovens talentosos, de diferentes domínios de atividade, provenientes da geração portuguesa melhor preparada de sempre. Ora uma sociedade, para ser competitiva na economia global, deve captar os melhores dos melhores, especialmente aqueles com competências na ciência, tecnologia, engenharia e matemática (as STEM). Pelo que sendo obviamente importante a medida proposta pelo governo de diminuir a taxa de IRS dos jovens que emigraram a partir de 2011, esta iniciativa deve ser forçosamente complementada com outras propostas que permitam que os mais talentosos, e de qualquer nacionalidade, encontrem no nosso país as condições para se estabelecerem e para criar novas empresas e laboratórios, com a criatividade e a inovação que se exige num mundo global altamente competitivo.
Isso passa, desde logo, por atrair os emigrantes portugueses expatriados e fomentar a sua vinda para Portugal. Com incentivos verdadeiramente eficazes tal como apoios financeiros à criação de laboratórios ou de empresas, startup e spinoff, ou mesmo alterar o quadro legal para permitir uma rápida integração no sistema académico que é, como se sabe, pouco flexível para incorporar novos talentos. O regresso de emigrantes qualificados teria o efeito adicional de promover uma concorrência saudável com os jovens que se encontram em Portugal. Permitindo assim que o nosso país olhe de uma forma diferente para este início de século XXI. E para que a nossa competitividade possa ombrear com as economias mais desenvolvidas do planeta.
Professor Catedrático da Universidade do Porto