A diplomacia musical de Mário Laginha e Tcheka

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Já se passaram sete anos, desde o primeiro encontro entre Tcheka e Mário Laginha, um verdadeiro caso de amor à primeira audição que, desde então, tem resultado nas mais variadas colaborações entre os dois músicos, como acontece agora com este novo espetáculo, pela primeira vez apresentado em Lisboa. Conheceram-se na Cidade da Praia, aquando de um espetáculo a solo do pianista português na capital de Cabo Verde. O cupido foi o então adido cultural português, João Neves, como recorda Mário Laginha ao DN: "Falou-me do Tcheka, que eu não conhecia de lado nenhum, de uma forma muito efusiva. Logo nesse dia fui comprar alguns discos dele e mal os ouvi fiquei logo apaixonado. Aliás, nessa noite toquei logo um tema dele no meu concerto". No final do espetáculo, o diplomata, que também havia convidado Tcheka para estar presente, apresentou os dois músicos e logo ali começaram a alinhavar uma futura colaboração. Mas o que aconteceu foi muito mais que isso, aliás, é caso para dizer que nunca mais se largaram, tal a quantidade de vezes que já trabalharam ou tocaram juntos.

"Quando o Tcheka veio a Portugal com o seu grupo, tocar ao São Jorge, convidou-me para tocar dois temas. Correu muito bem e depois fomos alargando os convites a muitas mais coisas", recorda Mário Laginha, desvalorizando os "aparentemente distantes" universos musicais de ambos. "Em termos rítmicos e melódicos, temos muito mais pontos em comum do que à primeira vista parece", defende o músico português. Quanto a Tcheka, não faz a coisa por menos: "Este encontro foi um casamento natural. É um prazer enorme tocar com o Mário, porque ele consegue dar outro tipo de dimensão à minha música".

É esta relação, feita de muitas cumplicidades e afinidades, tanto musicais como pessoais, que se pretende celebrar neste espetáculo, chamado de Strada. "É também o nome de um tema do último disco do Tcheka, no qual participei, mas acima de tudo é uma referência a este nosso percurso conjunto, que já tem um longo caminho para trás e vai continuar a avançar", sublinha Laginha. O alinhamento do concerto, que já foi apresentado nalgumas cidades europeias, é composto por temas da autoria de ambos, todos eles com novos arranjos, feitos por Mário Laginha. Um trabalho que, não sendo fácil, também "não foi difícil", como esclarece o compositor. "Íamos experimentando. Ele tocava, eu criava a partir desses trechos e depois o Tcheka dava a sua opinião, de uma forma muito oral, sobre o caminho a seguir. A verdade é que as ideias dele são sempre muito claras, no sentido de conseguir indicar um caminho. Foi tudo muito natural".

Tcheka sorri, perante as palavras do companheiro, devolvendo em seguida o elogio: "O conhecimento musical do Mário foi muito importante neste processo. Ele coloca apenas o que é necessário para fazer brilhar cada tema". Para Laginha esse foi mesmo o maior desafio, pois "sendo o jazz um estilo com tantas harmonias", neste caso isso poderia representar um problema. "Sinto sempre que tenho de ter muito cuidado a respeitar a música tal como ela é, sem estar a enchê-la desnecessariamente. O Tcheka tem uma complexidade rítmica muito própria e se alguns ritmos são fáceis de entender, há outros que têm de ser encontrados", explica, dando um exemplo tão simples quanto o bater do pé. "Muitas vezes dou por mim abater o pé ao som de uma música e olho para o Tcheka e o pé dele está noutro tempo. O meu trabalho passa muitas vezes por aí, em tentar perceber onde está o tempo forte dele, para me colar. Mas isso é que é fascinante numa parceria como esta".


Impõem-se portanto a pergunta: Para quando um disco em conjunto? "Acho que há fortes possibilidades disso acontecer em breve. Não achas?" Pergunta Mário Laginha a Tcheka, que se limita, mais uma vez, a sorrir. Está tudo dito.


Mário Laginha e Tcheka

Teatro da Trindade INATEL, Lisboa

15 e 16 deste mês, 21.30

Bilhetes de 13 euro a 17 euro

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