a diferença entre um estadista e um político
O que distingue um estadista de um político mediano? Fundamentalmente, a capacidade de ter razão antes de tempo. Há exemplos clássicos nesta matéria, mas nenhum tão expressivo como o de Winston Churchill, que ao longo da década de 30 foi praticamente a única voz relevante a chamar a atenção no Reino Unido para a necessidade de encarar a Alemanha de Adolf Hitler como uma ameaça mortal. Sabe-se o que aconteceu: foi ridicularizado por todos os presumíveis sábios do momento. Acusaram-no de tudo - de belicista a louco - por ousar romper o consenso em torno do dogma da "paz" a qualquer preço.
Churchill, notável biografia escrita por Paul Johnson (Alêtheia, 2010), descreve bem o que foram esses tempos de persistente cegueira em Londres. O Partido Traba- lhista britânico manteve-se teimosamente contra a dopção de medidas preventivas. "Opomo-nos terminantemente a todo e qualquer processo de rearmamento", declarou na Câmara dos Comuns o futuro líder trbalhista, Clement Attlee, em Dezembro de 1933, 11 meses após a subida dos nazis ao poder. Até os primeiros tiros serem disparados, a cegueira persistiu: abundavam políticos, escasseavam estadistas. "Gostaria de dissolver o exército e de dearmar a força aérea." Esta foi uma mensagem eleitoral do líder trabalhista, George Lansbury, na campanha para as intercalares de Junho de 1933.
Paul Johnson enumera outros exemplos. O lorde trabalhista Clifford Allen, ex-director do jornal Daily Herald, afirmou-se "convencido" de que Hitler alimentava "um desejo genuíno de paz". O arcebispo Temple, de York, elogiou o "grande contributo" do chanceler nazi para "a paz e a segurança". Lord Lothian, futuro embaixador britânico nos EUA, foi ao ponto de invocar o Tratado de Versalhes imposto aos alemães em 1919 para justificar as perseguições aos judeus.
"A ala pacifista do clero, que era dominante, fundou a União de Apelo à Paz" pedindo aos britânicos a recolha de "assinaturas pela paz" - iniciativa que teve imenso sucesso, assinala Johnson. Nunca a voz de Churchill soou tão solitária. E afinal quem tinha razão era ele.