A desumanização segundo Steve McQueen
Na revista americana The New Yorker, o crítico David Denby teceu rasgados elogios a 12 Anos Escravo, chegando mesmo a dizer que é "à vontade o melhor filme jamais feito sobre a escravatura americana". Exagero ou não, o facto é que o novo filme do realizador inglês Steve McQueen é, pelo menos, bem melhor do que três filmes estreados no ano passado em torno de temáticas semelhantes: 'Lincoln', de Steven Spielberg (uma monumental chatice), 'Django Libertado', de Quentin Tarantino (bem feito mas fútil), e 'O Mordomo', de Lee Daniels (uma mediocridade bem-intencionada, neste caso sobre a luta dos negros por direitos civis).
Quererá isto dizer que é preciso vir alguém do Velho Continente para fazer o "grande filme" sobre a escravatura que nenhum americano logrou realizar? Dizer que os cineastas americanos perderam a mão, como alguns dizem, é uma generalização, ou seja, uma ideia totalitária que não descreve fielmente a realidade, porque continua a haver muito bom cinema made in USA. Todavia, o cinema não deve ser medido por localizações geográficas, mas antes pela sua qualidade intrínseca, e, no caso de Steve McQueen, estamos diante de um realizador manifestamente talentoso e que em '12 Anos Escravo' tem a grande vantagem (política, humana, afetiva) de ser negro e de, por isso, estar bem posicionado para prestar tributo aos seus ancestrais. Dito isto, basta apenas acrescentar que esta sua terceira longa-metragem confirma aquilo que 'Fome' (2008) e 'Vergonha' (2011) já sugeriam: Steve McQueen é um magnífico cineasta.