Dizem que nós, humanos, somos a soma de todas as histórias que ouvimos, que vimos e que lemos. Ao longo do tempo, a literatura tem contribuído para passar testemunhos, mas também fomentar a imaginação. É, por isso, fundamental, fomentarmos a democratização da literatura..Das primeiras figuras rupestres, rabiscadas nos tetos e nas paredes das cavernas, até a infinidade de livros publicados nos nossos dias, os rios de tinta abriram caminho para a evolução da mente humana em absolutamente todas as frentes. Conhecemos os nossos antepassados mais remotos, desde quando éramos tediosos seres unicelulares; interpretamos discursos e visões de mundo surgidos nos mais longínquos cantos e tempos do planeta; desbravamos a medicina empurrando os limites da própria mortalidade; criamos máquinas capazes de nos levar a futuros que, por sua vez, também foram concebidos nos nossos sonhos..As histórias criadas pela nossa espécie foram responsáveis por revolucionar até o próprio tecido do tempo. Afinal, se um cidadão convencional consegue mergulhar em páginas de livros e sair íntimo conhecedor de D. Afonso Henriques, de Bernardo Soares, de todos os Grandes Sertões brasileiros e das terras mais sonâmbulas do Moçambique pós-guerra, isso significa que o ser humano conseguiu o feito de viajar no tempo e no espaço usando, apenas para isso, a escrita..Ocorre que viajar no tempo-espaço é pouco: somos uma espécie que quer sempre mais. Não basta conhecer o nosso passado e passear por quaisquer futuros, sejam eles prováveis ou fictícios. Não basta viajar impulsionados pelas histórias clássicas de génios como Mia Couto, Guimarães Rosa, Saramago, Valter Hugo Mãe, Mário de Andrade. Nós, também, nos nossos níveis mais individuais, precisamos de conceber. Precisamos de inventar. Precisamos de registar. Precisamos de partilhar. E, a partir desta nossa humaníssima e individualíssima vontade de partilhar as nossas histórias, chegamos hoje ao ponto exato de uma das mais importantes revoluções da história cultural humana: a autopublicação de livros..Hoje, com alguns simples cliques, todos podemos publicar os nossos livros gratuitamente. Todos podemos vender, seja em formato impresso ou digital, as nossas histórias. Todos podemos alcançar públicos aqui perto ou a oceanos de distância - públicos que nem sequer ouviram falar de nós, mas que poderão comprar os nossos livros, aprender com eles e deixar a sua imaginação navegar nas ondas das histórias que nós mesmos criamos..Sim, é um facto que nem todos nós conseguiremos alcançar os incríveis números de leitores como os grandes escritores que formaram as nossas mentes. Mas também é um facto que muitos de nós, com muito mais facilidade, conseguiremos seguir os exemplos de génios que mudaram o mundo ao se autopublicarem, como Lewis Carroll, Marcel Proust, Edgar Allan Poe, Tólstoi, Carlos Drummond de Andrade e José de Alencar, entre tantos outros..Porque temos, hoje, o elemento mais importante para qualquer escritor: acesso. E, com um acesso à publicação tão facilitado, a proliferação de livros escritos por qualquer um que deseje imortalizar-se a partir das próprias histórias chega a ser óbvia, como provam os mais de 80 livros autopublicados por dia apenas em língua portuguesa e os mais de 300 milhões de exemplares de títulos autopublicados vendidos em todo o mundo apenas em 2022..São números que refletem uma realidade na qual a própria definição de humanidade já foi reescrita: não somos mais a soma das histórias que lemos; somos a soma das histórias que escrevemos, que partilhamos e que publicamos para a posteridade..Ricardo Almeida, CEO e fundador do Clube de Autores