A data que separou a Ibero-América

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Não fosse a presença dos holandeses no Nordeste brasileiro, expulsos só em 1649 após a batalha de Guararapes, e o domínio espanhol em Portugal teria sido o único período em que houve uma Ibero-América a sério - um imenso espaço político da Califórnia até à Terra do Fogo sob a coroa dos Filipes. E é quase irónico que a XIX Cimeira Ibero-Americana, que junta no Estoril líderes de 22 países, termine hoje no feriado português que assinala o fim oficial dessa união de seis décadas.

Mas, longe de ser uma data infeliz, essa ruptura de 1 de Dezembro de 1640 garantiu que sobrevivessem na Península culturas nacionais distintas. E que do outro lado do Atlântico se afirmassem em concorrência o português e o castelhano, expressão cultural máxima dos dois Estados ibéricos.

Garantiu-se a diversidade, reforçada quando a vaga de independências do início do século XIX criou quase duas dezenas de países, desde o México à Argentina. Graças ao drama pessoal de D. Pedro, dividido entre ser imperador do Brasil ou rei de Portugal, acabou por ser a América de língua portuguesa que se manteve unida depois da independência. Transformou-se na que é hoje a principal potência representada na cimeira do Estoril.

E há quem diga que o Brasil, quase tanto como em 1822 com o grito do Ipiranga, nasceu como país quando foram expulsos os Filipes e os holandeses. Afinal, a coincidência de datas neste feriado até é feliz.

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