A dama de copas polaca que aprendeu português a ver novelas
Chama-se Malgorzata, mas também responde por Margarida, a versão portuguesa do seu nome polaco. O motivo é muito simples: "É mais fácil para os portugueses. Os meus amigos conhecem-me pelo diminutivo do meu nome verdadeiro polaco. O meu nome é Malgorzata, mas dez minutos depois as pessoas já não se lembram, de Margarida sim. Tanta confusão por causa de um nome não vale a pena. Profissionalmente decidimos usar nomes portugueses porque é mais fácil, senão as conversas iam acabar por ser em torno do nome e não quero isso", conta ao DN falando também sobre a sua sócia na Dama de Copas, Agnieszka, a Inês.
Nasceu em Varsóvia em 1972, sempre estudou na capital da Polónia, tendo-se licenciado em Design de Equipamento. Quando acabou o curso, começou a trabalhar como designer, durante mais ou menos um ano. Até que, em dezembro de 1999, se mudou para Portugal. "Conheci um rapaz português em Varsóvia, ele tentou arranjar emprego na Polónia, mas era difícil porque a Polónia na altura não fazia parte da União Europeia, ele também não falava bem polaco, só falava inglês, o que dificultava as coisas, por isso decidimos tentar em Portugal", recorda.
A chegada a Portugal não foi fácil. Não conhecia o país, nunca tinha estado cá, não falava português, e sofreu com o choque entre as duas culturas. "Uma coisa que me chocou no início, mas a que agora já me habituei, foi a coisa dos dois beijinhos. É uma coisa muito simpática, mas eu não estava habituada. Lembro-me de uma vez que um senhor, de 50 e tal anos, numa relação profissional, se lançou logo para me dar dois beijinhos, eu assustei-me. Na Polónia temos mais o costume de apertar a mão. Mas já me habituei, agora beijo toda a gente", confessa entre risos.
Sustos à parte, diz achar o povo português "muito simpático, muito aberto, que acolhe bem as pessoas, não são preconceituosos, aceitam as diferenças entre culturas, aceitam bem as pessoas que falam outra língua, mesmo que não falem a língua portuguesa". A aprendizagem do português, diz, foi uma "coisa natural". Além da ajuda que lhe deu ter estudo espanhol durante dois anos em Varsóvia, do então namorado e da sua família, Malgorzata contou com uma "professora" original. "Aprendi através das telenovelas, porque era uma coisa muito simples, era muito fácil de decifrar as coisas pelas caras, se estavam com uma cara zangada eu percebia que era uma coisa má, quando estavam a rir era uma coisa boa, as situações eram todas muito claras. Via novelas brasileiras, aliás nem sei como é que não falo com sotaque brasileiro, e portuguesas."
Durante os primeiros nove, dez anos em Portugal trabalhou em design gráfico, mas a dada altura deixou de se sentir realizada. Agnieszka, que tinha conhecido entretanto, sentia o mesmo, conversa puxa conversa e foi assim que, em fevereiro de 2009, no Fábulas, um café no Chiado, nasceu o que é agora a Dama de Copas, um projeto de bra fitting e consultoria de lingerie com cinco lojas em Lisboa, Porto e Madrid, e terá uma sexta em Valência em setembro.
Malgorzata diz não se sentir uma lisboeta, mas também não é turista, é uma polaca que vive em Lisboa. No entanto, admite que se tiver de trocar a capital portuguesa por outro sítio irá sentir falta das coisas que tem cá, as suas lojas, os seus cafés, os seus transportes. Residente em Campo de Ourique, os transportes são, porém, uma das queixas que tem de Lisboa. "O elétrico 28 é o meu meio de transporte, aliás era, que eu agora já não consigo entrar. A minha é a primeira paragem e já está cheio. Os turistas gostam de andar no 28 porque é como os portugueses fazem, mas na verdade já não fazem, já não se consegue andar no 28", lamenta.