A D. Armanda, A D. Júlia e o vulcão
Entro no Metro direcção Santa Apolónia e sentadas num banco da carruagem meia vazia estão a D. Armanda e a D. Júlia, duas sólidas cinquentonas, lídimas representantes do bom povinho lisboeta, cada qual um saco de plástico aos pés. Falam do vulcão islandês de nome impronunciável. Enfim, fala a D. Armanda, que a D. Júlia quase só ouve e diz que sim com a cabeça. Chego-me perto delas com discrição e assesto o meu ouvido de tísico para não perder pitada da conversa.
"Sabe, D. Júlia, o vulcão lá na Finlândia [sic], foi alevantado pelo tremor de terra que houve lá na África, em que morreu aquela gentinha toda, viu na televisão aquela desgraça toda, não viu?". (A D. Armanda a dizer que sim, que sim, com a cabeça e a acrescentar, "Deus põe e dispõe, D. Armanda...").
Segue a D. Armanda: " Viu na televisão, não viu? Aquilo fica tudo em fogo lá nas entranhas da terra e salta tudo cá pra fora a fazer FSHHHHH! FSHHHHH! e leva tudo à frente. E depois é o que se vê, é o povo todo a fugir das casas, e tudo sujo das cinzas e os aviões não podem voar por causa da nuvem negra." (A D. Júlia a dizer que sim, que sim, com a cabeça ea acrescentar, "Isto está tudo mas é perdido...").
"O pastor lá da igreja diz que isto é tudo é sinais, sabe, D. Júlia? Pois é. Tudo sinais. O fim do mundo está mesmo aí a chegar, D. Júlia. O pastor explicou-nos tudo, ai se explicou. Ora bem!"
Mas eis que chega a minha estação, tenho que sair, ir trabalhar, não posso ficar a seguir a conversa. E lá se vai o comboio túnel dentro, mais os pormenores de como o apocalipse está aí está a bater--nos à porta, dados pela D. Armanda à D. Júlia.